O Estado de São Paulo, n.46176, 21/03/2020. Metrópole, p.A18

 

Governo admite produção e hospitais vão testar remédio

22/03/2020

 

 

O secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo Reis, afirmou ontem que a produção dos remédios hidroxicloroquina e azitromicina pelas Forças Armadas, como anunciou mais cedo o presidente Jair Bolsonaro, já é feita no Brasil, tanto no laboratório das Forças Armadas quanto em instituições como a Fiocruz.

Ele afirma que o presidente autorizou a ampliação de produção dos medicamentos para ofertar a pacientes graves do coronavírus, reforçando que esse tipo de tratamento ainda é feito de forma experimental e a nova leva ofertada será para reforçar os testes. Esse tipo de uso é chamado de compassivo, ou seja, quando uma droga pode ser utilizada mesmo sem estudos suficientes, contanto que em casos de pacientes graves, sem outras opções terapêuticas.

Além disso, o Hospital Albert Einstein, primeiro do País a confirmar casos de coronavírus, e a operadora Prevent Senior, primeira a registrar mortes, informaram que vão conduzir estudos clínicos para avaliar a eficácia da cloroquina no tratamento da infecção provocada pelo novo coronavírus.

O medicamento é registrado há anos no Brasil para tratamento de artrite, lúpus e malária, mas ganhou destaque nos últimos dias após testes preliminares feitos por chineses e sul-coreanos mostrarem que as drogas são efetivas em limitar a replicação do novo coronavírus in vitro e provocar melhoras em pacientes tratados com o remédio. Como os resultados são iniciais e foram observados apenas em um grupo pequeno de doentes, diversos institutos de pesquisa e governos mostraram interesse em estudos.

No Brasil, o Einstein deve iniciar em breve um estudo do uso da cloroquina em quadros graves de covid-19. “O estudo ainda está sendo desenhado, mas vai ser grande e ter financiamento público e privado. Ele vai ser coordenado pelo Einstein, mas terá a participação de outros hospitais”, relata o médico intensivista Leonardo Rolim Ferraz, gerente do departamento de pacientes graves do hospital.

O gerente do Einstein afirma que o uso compassivo não faz parte dos protocolos estabelecidos pelo hospital para tratamento dos infectados pelo novo coronavírus, mas não descarta que médicos da instituição possam fazer uso da terapia mesmo antes do início dos estudos. “Nós temos um corpo clínico aberto, ou seja, os médicos têm a liberdade de tomar as melhores decisões para os seus pacientes, inclusive de uso compassivo de medicação”, explica.

Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) limitou a compra de hidroxicloroquina e cloroquina a quem tem receita. Isso após uma “corrida” às farmácias que esgotou estoques.