Título: 3,4 milhões de idosos vivem sozinhos
Autor: Lisbôa, Anna Beatriz
Fonte: Correio Braziliense, 29/11/2012, Brasil, p. 10

Segundo o IBGE, 42,3% dos lares unipessoais são formados por pessoas com mais de 60 anos. Especialista destaca os riscos

Dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, em 2011, 12,4% das pessoas moravam sozinhas no país — um crescimento relativo de 35,6% em relação a 2001. Do total, 51,2% são mulheres e 42,3% têm 60 anos ou mais, cerca de 3,4 milhões de idosos. A maior porcentagem de habitantes solitários foi registrada no Rio de Janeiro (17,1%) e a menor no Amazonas (8%). No Distrito Federal, cerca de 134 mil domicílios são unipessoais, o que corresponde 14,7% do total e a população idosa aumentou de 4,9% para 8,8% em 10 anos. De acordo com o IBGE, a queda da fecundidade e o envelhecimento da população contribuíram para o quadro.

O geriatra Renato Maia destaca três fatores que levam mais idosos a viverem sozinhos na atualidade: a independência financeira, a dispersão dos filhos, que se mudam para outras cidades, e a omissão destes, cada vez menos acolhedores em relação aos pais em suas residências. "O viver só, na maioria das vezes, não corresponde a uma decisão do indivíduo, é uma consequência da vida. O principal motivo é a perda do companheiro", detalha. "Outra questão importante é a saída dos filhos de casa em busca de oportunidades de estudo e trabalho em outros locais. O comportamento da sociedade moderna é diferente. No passado, era comum haver três gerações em uma mesma casa."

É o caso de Gerson Ribeiro, 66 anos, que mora sozinho em Belo Horizonte há 13 anos, quando o filho único foi cursar faculdade em outro estado. Viúvo desde 1992, o aposentado optou por não se envolver em um relacionamento estável novamente. "Embora a decisão de morar sozinho não tenha sido minha, quis permanecer desta forma." Com a maioria dos amigos casados e com netos, Gerson dedica o tempo aos seus passatempos preferidos: música, cinema e viagens. "Mantenho a mente ocupada e faço atividades físicas. Sempre tive essa característica de gostar de atividades individuais." Ativo nas redes sociais, ele coleciona amigos no Facebook e se mantém informado pela internet.

Preocupações O médico Renato Maia ressalta que, embora seja cada vez mais comum o número de pessoas mais velhas vivendo sozinhas, a situação desperta algumas preocupações. "A solidão aumenta o risco de depressão. Além disso, há perigos inerentes à própria idade, como o uso inadequado de medicamentos por falta de supervisão, quedas e outros acidentes." Para o geriatra, esse quadro tende a aumentar ainda mais no futuro. "O jovem de hoje, que será o velho de amanhã, terá menos filhos e a chance de morar só é muito grande."