Correio braziliense, n. 20776 , 10/04/2020. Economia, p.8

 

Os primeiros a receber

Alessandra Azevedo

10/04/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Mais de 2,5 milhões de trabalhadores informais obtêm o depósito emergencial de R$ 600. Dinheiro fica disponível para o correntista por 90 dias e não pode ser utilizado pelos bancos para saldar dívidas. Programa deve atender 54 milhões de brasileiros nos próximos meses

No primeiro dia de pagamento, ontem, mais de 2,5 milhões de trabalhadores informais receberam uma das parcelas de R$ 600 do auxílio emergencial garantido pelo governo para reduzir os impactos da crise do coronavírus. A Caixa e o Banco do Brasil depositaram, até as 20h, R$ 1,5 bilhão. Ao final dos três meses que deve durar o programa, R$ 98 bilhões serão repassados a 54 milhões de pessoas, pelos cálculos do Executivo.

A Caixa efetuou 2,1 milhões de depósitos, e o Banco do Brasil, 436 mil. Para esta semana, a previsão é de que o dinheiro só entraria na conta de quem fizesse parte do Cadastro Único (CadÚnico) do governo, mas não recebe Bolsa Família. Os beneficiários do programa de transferência de renda terão acesso ao auxílio a partir de quinta-feira da semana que vem. Na terça-feira, ele começa a ser pago a mães chefes de família — que têm direito ao dobro do benefício, no valor de R$ 1,2 mil —, a microempreendedores individuais (MEIs) e a contribuintes individuais do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Quem se cadastrou pelo site ou pelo aplicativo da Caixa, que começou a funcionar, também recebe a partir de terça-feira. Até ontem, 30,2 milhões de brasileiros pediram o benefício pela internet. Com contas atrasadas e sem conseguir trabalhar, Camilla Oliveira, 25 anos, faz parte do grupo informal que dependia do funcionamento do comércio. “Já deixei de pagar dois cartões de crédito, conta de água e plano de saúde”, disse a moradora do Cruzeiro. A maior parte da renda era proveniente de bicos em empresas que, agora, estão fechadas. O marido, Matheus Fonseca, 25, não tem direito ao auxílio, porque trabalha com carteira assinada em uma floricultura, mas também enfrenta problemas financeiros. Os ganhos dele caíram mais de 20%, sem o bônus que era pago mensalmente de acordo com as vendas. “A maior parte dos lucros vem de contratos para casamentos, não da loja; e todos foram cancelados devido à pandemia”, lamentou Camilla.

Prazo para saque

Cada parcela de R$ 600 do auxílio ficará na conta dos beneficiários apenas por 90 dias depois que cair nas contas.O governo pegará de volta os valores que não forem usados, transferidos ou sacados dentro desse prazo. A informação está no decreto 10.316, assinado na última terça-feira pelo presidente Jair Bolsonaro, para regulamentar o pagamento. Significa que a primeira parcela, que começou a ser paga ontem, só poderá ser movimentada pelo titular da conta até julho. A última parte, que será creditada em junho, perde a validade em setembro.

A Rede Brasileira de Renda Básica, grupo de organizações da sociedade civil que propõe a ampliação do pagamento do benefício, critica o “sequestro” do dinheiro. “Esse recurso deve ficar disponível pelo tempo que for necessário. A condicionante prejudica, por exemplo, pessoas que perderem o cartão, tiverem problemas para usar a conta digital ou ficarem longe dos locais onde podem sacar o benefício”, criticou Leandro Ferreira, presidente do grupo, que cobra a ampliação do prazo.

Dívidas

O governo também garantiu que o valor não poderá ser usado para pagar dívidas com bancos, como cheque especial. A ressalva, no entanto, não está no decreto. Ainda assim, o Banco do Brasil reafirmou, ontem, o compromisso de não usar os recursos para esse fim. Os bancos privados se posicionaram no mesmo sentido, em nota publicada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), na última terça-feira.

A Caixa e o Banco do Brasil reforçaram que não é preciso ir às agências bancárias para ter acesso ao auxílio. O dinheiro pode ser movimentado pelos aplicativos e sites das instituições, sem sair de casa. Quem receber o crédito pode, por exemplo, pagar boletos e contas de água, luz e telefone e fazer transferências pela internet. O BB lembrou que, caso os clientes precisem, podem fazer saques em terminais de autoatendimento e caixas eletrônicos.