Título: Múltipla jornada das mulheres
Autor: Lopes, Valquiria ; Sarapu, Paula
Fonte: Correio Braziliense, 29/11/2012, Brasil, p. 10

Belo Horizonte — Para conseguir dar conta das tarefas domésticas, trabalhar sete horas diárias, fazer ginástica e cursar pós-graduação, a servidora pública Cátia de Cássia Souza Gomes, 48 anos, precisa cronometrar bem o tempo e se desdobrar. Isso porque, mesmo tendo jornada de trabalho semelhante ao marido durante a semana, ela é responsável pela maior parte dos afazeres da casa, como as compras de supermercado, a limpeza e o almoço nos dias em que a família não conta com o serviço de diarista. Cátia é funcionária do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais (TRT-MG) e tem formação superior, diferentemente do marido. Mesmo assim, antes de se tornar servidora pública, ganhava menos que ele.

Ela é um exemplo do retrato da mulher na maioria dos lares, segundo estudo divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa mostra que elas estudam mais do que eles, ganham menos e ainda dedicam mais tempo aos afazeres domésticos. Além da jornada de trabalho, as mulheres brasileiras dedicam 27,7 horas/semanais às atividades domésticas, contra 11,2 para os homens. No Distrito Federal, a média é de 26,1 horas para a população feminina e 13,3 para a masculina. Os brasilienses estão entre os mais dedicam tempo aos afazeres domésticos. Só fica atrás dos homens de Amapá, Pernambuco e Alagoas.

No levantamento, o IBGE se baseia nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2011, combinados com outros registros administrativos do governo federal, que permitem analisar as condições de vida da população, destacando indicadores sociais, econômicos e demográficos. Segundo a coordenadora estadual do Setor de Disseminação da Informação do instituto em Minas Gerais, a demógrafa Luciene Longo, as diferenças entre homens e mulheres ainda são bem marcadas, embora a situação venha mudando lentamente ao longo dos anos.

Cátia Gomes conhece bem a rotina atribulada de uma mãe de família. "Mesmo com a diarista e com meu marido ajudando com a organização da casa, a carga de tarefas é muito maior para mim do que para ele. Isso implica em abrir mão de algumas coisas, como fazer outro curso superior à noite", afirma. A pós-graduação, feita à distância, só foi possível depois que o filho Igor tornou-se mais independente. Para ela, a realidade mostrada pela pesquisa do IBGE é resultado de questões culturais. "Infelizmente, o que prevalece nos lares é a ideia de que a mulher é responsável pela casa, é a "dona de casa"."