Título: Saída pelo crescimento
Autor: Cavalcanti, Leonardo
Fonte: Correio Braziliense, 20/11/2012, Economia, p. 13

Dilma critica especulação contra o euro e defende união e investimentos para vencer a turbulência econômica

No último dia da visita à Espanha, a presidente Dilma Rousseff criticou a especulação contra o euro e defendeu a cooperação de todos os países para vencer a crise. Durante encontro com o chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy, a petista disse acreditar que a moeda única europeia voltará a se fortalecer, reafirmou a necessidade de buscar o crescimento a partir de investimentos e garantiu a ajuda do Brasil às economias da região.

“O Brasil pode e deve contribuir para que haja mais expansão econômica, mais possibilidades de solução para a crise, porque ela necessariamente passa pelo crescimento”, disse a presidente, que se reuniu com Rajoy e ministros dos dois países no Palácio de Moncloa, sede do governo espanhol.

No encontro, informou Dilma, decidiu-se aproveitar melhor do potencial de cooperação entre as duas partes. As áreas mais promissoras são ciência, tecnologia e inovação — “em domínios que abrangem gestão de recursos hídricos, cooperação industrial para a defesa, indústria naval, construção de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, nanotecnologia e a área de petróleo e gás, além do trem de alta velocidade”, detalhou a presidente. “Vamos aumentar e diversificar os fluxos de comércio.”

Os ministérios das Relações Exteriores do Brasil e o de Assuntos Exteriores da Espanha criaram uma comissão especial para discutir temas específicos de interesse comum. A Espanha é o segundo maior investidor estrangeiro no Brasil. Para Dilma, entretanto, é possível incrementar ainda mais os negócios.

Confronto Na entrevista à imprensa, a presidente voltou a criticar a velha política do Fundo Monetário Internacional (FMI), adotada na América Latina nos anos 1980 e 1990. Para a presidente, a austeridade fiscal receitada pelo fundo, sem políticas de investimentos públicos e privados e políticas sociais, estagnou a região, que só saiu da crise quando mudou a cartilha. “Equilíbrio fiscal e crescimento, controle da inflação e políticas de distribuição de renda não são antagônicos.”

No caso da Europa, disse ela, o FMI mudou de postura. “A atitude do FMI neste momento reflete o aprendizado do fundo, que não receitava para nós nada que não fosse cortar salários, desemprego e ajuste”, disse a presidente. “Se (o FMI) tivesse tido a consideração de nos tratar de uma forma mais compreensiva, a América Latina teria saído antes da crise.”

Repetidas ao longo da visita à Espanha, as declarações de Dilma chegaram a ser entendidas como uma crítica ao próprio Rajoy, mas ontem ela procurou desfazer essa impressão. “Não tenho a pretensão de dar receitas à Espanha. Falo sobre as experiências e os erros do meu país”, afirmou. O primeiro-ministro, por sua vez, disse que o suposto antagonismo dos discursos não foi tema do encontro.

Diante da pergunta de um repórter espanhol, Rajoy defendeu a estratégia que vem adotando para enfrentar a crise, que inclui cortes de gastos, redução de salários e aumento de impostos, além de reformas no mercado de trabalho com a eliminação de regras que dificultavam demissões. “Pergunto como as coisas estariam se não tivéssemos adotado essas medidas”, alegou.

» Favoritos

O governo vai publicar o edital de licitação do trem de alta velocidade no próximo dia 26. A Empresa de Planejamento e Logística (EPL) pretende colocá-lo em operação a partir de 2018. Para a parte de maquinário, entretanto, é preciso a participação estrangeira. Hoje, apenas cinco países detêm tecnologia para desenvolver o projeto: França, Alemanha, Coreia, Japão e Espanha, favorita para ganhar a concorrência.