Título: Palestinos buscam a união
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 20/11/2012, Mundo, p. 16

Sob intenso bombardeio, os líderes do Hamas, da Jihad Islâmica e do Fatah se encontram para debater reconciliação

Entre idas e vindas nas tentativas de reaproximação, as divisões políticas palestinas parecem ver no atual conflito com Israel uma janela para reatar laços. Ontem, o comissário de relações internacionais do Fatah, Nabil Shaath, se reuniu com líderes do grupo Hamas em Gaza, sua terra natal. O embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Alzeben, confirmou a informação ao Correio e acrescentou que Shaat se encontraria com líderes de outras facções palestinas. "A unidade nacional é um fator primordial para conseguir nossos objetivos e estabelecer a paz duradoura na região", reiterou. Entre as principais divergências dos grupos, está a rejeição do Hamas ao pedido de reconhecimento de estado observador feito às Nações Unidas pelo presidente da Autoridade Nacional da Palestina (ANP), Mahmud Abbas, líder do Fatah. A requisição será votada dia 29 na Assembleia Geral, em Nova York (EUA).

Hamas e Fatah romperam após as eleições de 2007, quando o primeiro conquistou o maior número de cadeiras no Parlamento palestino. Um conflito entre as facções emergiu e o Hamas expulsou membros do Fatah da Faixa de Gaza no mesmo ano. O novo governo, liderado pelo Hamas, foi desconsiderado pelo presidente Abbas. Na divisão, o primeiro ficou no controle de Gaza e, o segundo, da Cisjordânia. Desde a eclosão da chamada Primavera Árabe, os dois grupos ensaiaram algumas retomadas de unidade, mas nenhuma alterou, na prática, a vida política dos territórios palestinos.

Segundo o embaixador Alzeben, Shaath chegou no domingo à noite a Gaza para iniciar uma série de encontros e demonstrar apoio aos palestinos deste território. Hoje, na companhia de integrantes do Hamas, deve se reunir com o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil Al-Aradi, e, possivelmente, com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Questionado sobre a rejeição do Hamas à iniciativa da ANP com à ONU, Alzeben afirmou que há expectativas de que o grupo possa mudar de posição. "Nossa ida às Nações Unidas é importante para ratificar um direito do povo palestino para constituir um país livre e soberano e acho que nenhum palestino pode ir contra esta ação", alertou.

Protesto

Em outro sinal de uma ponte entre os dois territórios, a agência de notícias France-Presse noticiou que um protesto foi liderado pelo Fatah em Ramallah, na Cisjordânia, em apoio aos palestinos de Gaza. Segundo a agência, a manifestação teve como líder o oficial do grupo, Jibil Rajoub, e a participação de integrantes do alto escalão do Hamas neste território, além de membros da Jihad Islâmica, outra facção. "A partir daqui, anunciamos com outros líderes que estamos acabando com a divisão", afirmou Rajoub para um multidão reunida na capital política da Cisjordânia.

No domingo, o próprio líder político do Hamas, Khaled Meshaal, conclamou à unidade dos grupos durante uma conferência no Cairo (Egito). Meshaal, que vive exilado no Catar, está no país vizinho a Gaza para participar das negociações de um cessar-fogo com Israel. Desde a queda do ditador Hosni Mubarak e a ascensão da Irmandade Muçulmana e seu presidente Mohamed Morsi ao poder, o Egito tem sido um grande aliado do grupo palestino. Na avaliação do cientista político da American University do Cairo Walid Kazziha, esse apoio deu um "encorajamento" ao Hamas inexistente no conflito de 2008. Na época, Mubarak, um aliado de Israel e dos EUA, permitiu o fechamento das passagens egípcias do território e isolou os palestinos na zona de conflito.

Uma autoridade em Oriente Médio, Kazziha disse estar cético quanto a um acordo entre os dois grupos palestinos. "Nesse momento, o Hamas (um grupo islâmico) se sente mais poderoso com as mudanças no Egito. Além disso, seus líderes acreditam ter sido traídos pelo Fatah no conflito de 2008", afirmou o egípcio, explicando que prevaleceu um rancor no grupo islâmico por a facção laica na Cisjordânia ter se mantido em silêncio durante os ataques que terminaram com a morte de 1.417 palestinos em Gaza.