Correio braziliense, n. 20778 , 12/04/2020. Brasil, p.6

 

Amazonas prestes a entrar em colapso

Renata Rios

12/04/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, anuncia construção de hospital de campanha no estado, para tentar aliviar rede sobrecarregada. Manaus será a primeira cidade do país a receber apoio médico de outras áreas para atendimento local

A cidade de Manaus vai ser a primeira do país a receber médicos e enfermeiros de outras regiões do país para apoiar o atendimento a casos de coronavírus. Manaus está com seu sistema de saúde operando no limite, prestes a colapsar. Hoje, o estado é o quarto do país em número de infecções, com 1.050 casos oficialmente conhecidos, além de 53 mortos. Diante da rede de saúde sobrecarregada, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse, ontem, que o governo federal construirá um hospital de campanha com 200 leitos para atender a pacientes de coronavírus em Manaus.

A ordem de serviço para o início das obras, segundo ele, deve ser assinada hoje. A informação foi dada após Mandetta acompanhar o presidente Jair Bolsonaro na vistoria de um hospital de campanha em Águas Lindas (GO). “Amanhã, já vou dar ordem para fazer o primeiro em Manaus, cidade que está entrando em colapso. Vamos ter que fazer um lá, temos comunidades indígenas extensas”.

De acordo com o governo do estado, a unidade será exclusiva para a saúde indígena e funcionará em um prédio cedido. O estado tem a maior população indígena do país, com cerca de 170 mil pessoas, segundo o Censo de 2010. Fora de Manaus, a disseminação do vírus avança em regiões do estado marcadas pela presença de povos indígenas. Ontem, dois indígenas tiveram a morte confirmada pela Funai, vítimas da Covid-19.

O governador Wilson Lima havia dito, na quinta, que dois hospitais da rede privada de Manaus estavam com as UTIs, também, lotadas. Ele afirmou, em declaração reproduzida no G1, que 55% dos respiradores do estado estão em uso, mas, com o ritmo atual de avanço do vírus, há risco potencial de todo o sistema de saúde do estado colapsar de vez.

“A situação hoje de Manaus é que a curva dos casos está muito próxima da capacidade de atendimento. Se não tomarmos nenhuma medida, o número de casos vai ultrapassar nossa capacidade de atendimento. As pessoas vão sentir, não vai ter leito, não vai ter respirador e as pessoas poderão ficar desassistidas”, disse o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, ao comentar a situação da região durante coletiva.

“Também vamos liberar recursos para que o hospital de referência em Manaus, que tem três andares não utilizados, receba imediatamente 350 novos leitos”, disse Gabbardo. “Mandamos, ontem, 20 respiradores em UTI para Manaus. Vamos mandar mais 20 respiradores.”

Conta comigo

Além da infraestrutura, Manaus será a primeira cidade do Brasil que vai receber apoio médico de outras áreas para apoio local. “Segunda-feira (13) irão médicos de outras regiões do país. Vão ajudar no atendimento desses pacientes em Manaus. Vai ser o primeiro estado que vai chamar as pessoas cadastradas no Programa Brasil conta comigo, que cadastrou profissionais de todo o país. Temos 1 mil enfermeiros cadastrados em Manaus. Parte deles será chamada pelo Ministério da Saúde. Há, ainda, 80 médicos que serão convocados. Vamos tentar elevar nossa capacidade de atendimento.”

O governador  Wilson Lima e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, apostam no Hospital Universitário Nilton Lins contra o avanço do coronavírus. Lima destacou, em vídeo em rede social, que o estado investirá R$ 866 mil por mês na locação da instituição, que nesta semana começará a operar como unidade de retaguarda para casos do novo coronavírus. Já o prefeito comentou, também na internet, o número de profissionais envolvidos. “Entraremos com 100 enfermeiros e tenho certeza de que o governo entrará com, pelo menos, 100. E teria o governo o compromisso de entrar com mais 148 médicos, porque eles têm mais expertise em lidar com questões de saúde mais complicadas do que os médicos da prefeitura”, informou.