Título: Cooperação contra a crise
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Fonte: Correio Braziliense, 29/11/2012, Economia, p. 17

Na Argentina, a presidente brasileira defende integração entre os dois países e parcerias para fortalecer a indústria

Buenos Aires — A presidente Dilma Rousseff defendeu ontem, em visita à Argentina, o aumento da cooperação entre as duas maiores economias sul-americanas para fortalecer as indústrias locais diante da competição acirrada com produtos de países desenvolvidos. Segundo ela, os governos devem agir em parceria com o setor privado para melhorar a competitividade industrial dos dois países, “bastante afetada pela crise econômica internacional”.

Em discurso no encerramento da Conferência Industrial Argentina, ao lado da presidente argentina, Cristina Kirchner, Dilma disse que “a crise econômica tem o poder de afetar todo o planeta e seus novos e inquietantes contornos já atingem os países emergentes e em desenvolvimento”. Ela fez ainda uma forte defesa do aumento da integração entre os dois países, no que foi fortemente aplaudida.

A presidente observou que a redução da demanda internacional convive com um imenso volume de manufaturas produzidas nos países desenvolvidos. Para escoar a produção, os governos das nações mais ricas, segundo ela, adotam políticas que acabam desvalorizando artificialmente suas moedas, prejudicando a indústria dos países em desenvolvimento. Em seu discurso, Dilma salientou que Brasil e Argentina têm imensas riquezas naturais e são líderes na produção de alimentos e em recursos energéticos. No entanto, frisou que a integração deve ser realizada “sem estar dedicado apenas a commodities, já que há potencial para indústrias de desenvolvimento”. “Somos países amigos, democráticos e irmãos”, pontuou. Em resposta, Cristina Kirchner afirmou que a integração “deixou de ser um desejo para se tornar uma necessidade”. “O Brasil não vai se dar bem se a Argentina se der mal, e vice-versa”, disse.

Calote A visita de Dilma à Argentina ocorreu num momento especialmente delicado nas relações entre os dois países, devido às crescentes restrições impostas por Buenos Aires à entrada de produtos brasileiros no país. Na terça-feira, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, pediu à Argentina para evitar o aumento do controle de importações “através do aprofundamento do diálogo e da cooperação”. Somente neste ano, as exportações brasileiras ao país vizinho caíram 20%.

A Argentina vive uma situação econômica difícil. O país não tem dólares suficientes para pagar as importações e ainda enfrenta o descrédito internacional por conta da moratória da dívida externa declarada em 2002. Ainda na terça-feira, a agência Fitch rebaixou a nota de crédito do país de “B” para “CC”, um corte de cinco pontos, numa avaliação de que a Argentina está novamente à beira do calote.

A reclassificação ocorreu após um juiz dos Estados Unidos ter determinado ao governo argentino que pague US$ 1,33 bilhão, até 15 de dezembro, a credores que não aceitaram os termos da reestruturação forçada da dívida do país há 10 anos. Cristina Kirchner disse que a Argentina vai continuar honrando o pagamento de suas dívidas, mas chamou os fundos de investimento beneficiados pela decisão judicial de “abutres”.