O Estado de São Paulo, n.46182, 27/03/2020. Economias e Negócios, p.B1

 

O que fazer para amenizar os efeitos do coronavírus na economia?

Celso Ming

27/03/2020

 

 

A pandemia do novo coronavírus deixou a economia brasileira ainda mais desorganizada. Há incerteza sobre temas como emprego, salário e PIB, além da questão fiscal. Economistas ouvidos pelo ‘Estado’ apontam rumos para uma recuperação após o vírus ser contratado

O Brasil já era um país mal organizado. A pandemia do coronavírus apenas começou por aqui e a economia já ficou ainda mais desorganizada. As perguntas se multiplicam. Como ficamos? A seguir, alguns dos campos em que as incertezas se amontoam:

1. Emprego, salário, faturamento e renda. Com tanta gente dispensada, comércio fechado, ainda que temporariamente, e pequenas e médias empresas bloqueadas em seus negócios, o que fazer diante do inevitável colapso do caixa e dos resultados?

2. PIB e produção industrial. Estamos em março e, no entanto, as novas projeções são de queda do PIB em 2020, e não mais de crescimento de alguma coisa em torno de 2%. Se isso está assim na renda, imagine-se então o que vai acontecer na poupança e no investimento. E, quando vier, como será a recuperação? Terá formato de “V” ou será um “L”?

3. Crédito e liquidez.Mesmo com queda de custos e dos preços de insumos – como os do petróleo – muitas empresas e muitos endividados deixarão de honrar seus compromissos. Até que ponto os bancos conseguirão manter abertas suas linhas de crédito? E que tipo de cobertura exigirão do Banco Central?

4. Questão fiscal. As despesas do Tesouro, que já vinham disparando, agora enfrentam novas e inadiáveis demandas por verbas. São os organismos que cuidam da Saúde, são os Estados, os municípios, as empresas privadas mais atingidas, como as companhias aéreas. E há os desempregados. Com o colapso da produção, da renda e do consumo e com a incapacidade de pagar impostos, a arrecadação mergulhará. Felizmente, incontáveis vidas poderão ser salvas. Mas como serão os estragos nas finanças públicas?

5. Inflação. Fora alguns casos excepcionais, os preços vão mergulhar e a inflação irá junto. Ao longo de todo o ano, o avanço do custo de vida pode ficar abaixo dos 3%.

6. Aplicações financeiras. Os juros básicos, que estão nos 3,75% ao ano, devem cair ainda mais. O retorno das aplicações em renda fixa ficará ainda mais nanico. Enquanto isso, as aplicações em renda variável, especialmente ações, continuarão sujeitas a grande volatilidade. Tanto podem voltar a afundar como podem disparar. Numa hora dessas, até mesmo ativos considerados seguros estarão sujeitos a perdas: moeda estrangeira, ouro, imóveis.

7. Mais perguntas em busca de resposta. Como ficam a reposição das aulas suspensas nas escolas, as férias escolares, as viagens interrompidas, os pagamentos atrasados, dívidas não pagas, as competições esportivas interrompidas? Obviamente, ninguém tem resposta nesse momento para tantas dúvidas. Mas perguntamos a um grupo de economistas o que o governo pode e precisa fazer neste momento para evitar uma catástrofe ainda maior que essa que se avizinha. A seguir, as respostas e sugestões dos economistas.