O globo, n. 31669, 21/04/2020. Especial Coronavírus, p. 6

 

Relaxamento da quarentena

André de Souza

Renata Mariz

Leandro Prazeres

21/04/2020

 

 

Com 46 milhões de testes, teich quer saída planejada

O ministro da Saúde, Nelson Teich, disse ontem que o relaxamento das medidas de distanciamento social adotadas para diminuir o risco de contágio pelo novo coronavírus deverá ocorrer de forma “progressiva, estruturada e planejada”. As regras de isolamento foram um dos motivos de divergência entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que deixou o cargo na semana passada após semanas de desgaste.

— A gente está atuando em três braços que são fundamentais. Um: entender melhor a doença, fazer o diagnóstico, entender a evolução. A segunda coisa: preparar a infraestrutura para o tratamento para que, nesse tempo em que a gente está afastado, vai ser usado para melhorar, preparar para o cuidado. E o terceiro: com essa preparação, desenhar esse programa de saída progressiva, estruturada e planejada do distanciamento social — disse Teich em vídeo divulgado pela assessoria de comunicação da pasta.

O novo ministro disse que a previsão de compra de testes para o novo coronavírus subiu de 24 milhões para 46 milhões, mas não deu prazo para entregas nem para o início da aplicação. O ministro explicou que testar em massa não quer dizer que todos os brasileiros vão ser testados.

—Teste em massa não significa testara população toda. A Coreia do Sul, que é uma referência em testes, fez 10 mil testes por milhão de pessoas. Não estamos falando em testar o país inteiro. A gente vai usar o teste de uma forma em que as pessoas testadas vão refletira população brasileira —disse o ministro.

Teich também anunciou a compra de 3,3 mil respiradores, usados no tratamento de pacientes graves, dos quais 1.150 vão ser entregues em maio e o restante em até 90 dias. Com isso, segundo o Ministério da Saúde, já foram assinados contratos para a aquisição de 14,1 mil aparelhos. Em 8 de abril, o Ministério da Saúde já havia prometido 14 mil respiradores em 90 dias.

OS SINAIS DE GUEDES

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem que preservar o que chama de “sinais vitais” da economia não significa sair do isolamento social agora. Para ele, porém,é preciso programar a saída dessa situação de restrições impostas por governadores e prefeitos para conter o avanço da Covid-19.

— A economia vem com mais força do que estás e pensando porque e la já estava começando a se mover. E se nós preservamos os sinais vitais vamos sair. Preservar os sinais vitais da economia não significa sair do isolamento agora. Significa fazer a coisa programada, fazer direito, fazer no devido tempo —disse Guedes, em transmissão ao vivo de uma instituição financeira.

Em seguida, o ministro afirmou que os sinais vitais da economia, como abastecimento, estão preservados, mas a situação está “crítica”.

—A coisa está ficando crítica. Realmente está ficando crítica. Não sabemos quanto tempo segue o isolamento e não sabemos quanto tempo aguenta a economia —disse.

Para Guedes, é preciso cuidar da saúde e da economia:

— Esse é o ponto futuro (sair do isolamento). Está acontecendo na China, os governos lá fora estão começando a planejar a saída. Nós temos que pensar isso também. São duas dimensões. Tem que pensar as duas dimensões.

Guedes chamou de “advertência” as críticas de Bolsonaro ao isolamento social. Ao comentar pela primeira vez a demissão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, disse que o presidente escolhe o ministro, não o contrário.

—A diferença de opinião, se houver e for exacerbada, não é o ministro que escolhe o presidente, é o presidente que escolhe o ministro. Isso em si não significa qualquer desapreço ao aspecto de preservar vidas. E sim que nós temos que nos preocupar também com a outra dimensão —afirmou.

Guedes sugeriu que setores podem funcionar com proteção adequada aos trabalhadores. O ministro garantiu que não haverá aumento de impostos para arcar com o custo da crise, cujos gastos se aproximam de R$ 300 bilhões. Para ele, a saída está nas reformas.

— A velocidade do escape vai depender das reformas estruturais —apontou.