Título: Mistério sobre asilo
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 06/12/2012, Mundo, p. 20

O ditador sírio, Bashar Al-Assad, estaria buscando garantias de um asilo político na América Latina, caso ele e sua família tenham de deixar Damasco. A informação foi divulgada ontem pelo jornal israelense Haaretz. Fontes diplomáticas sírias consultadas pelo Correio disseram que as informações são falsas e esclareceram que a visita do vice-chanceler, Faisal Al-Mokdad, à Venezuela — na última semana — teve o objetivo de demonstrar a gratidão do regime ao apoio desse país. O ministro das Relações Exteriores sírio esteve em Cuba, na Venezuela e no Equador e teria feito o pedido de asilo por meio de carta entregue aos respectivos líderes, segundo o jornal.

Sob a condição de anonimato, uma fonte diplomática síria disse que a informação não tem fundamento e que Al-Assad já manifestou várias vezes que não abandonará a Síria, envolta em uma guerra civil desde março de 2011. O objetivo da visita, segundo a mesma fonte, foi demonstrar a gratidão de Damasco ao apoio desses governos e que não teria nada a ver com solicitação de asilo. A reportagem do Haaretz afirma que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, teria recebido a carta antes de sua viagem a Cuba para o tratamento de um câncer. A publicação afirma que não era possível saber se Caracas teria atendido ao pedido.

A analista venezuelana Adriana Boersner, do Departamento de Estudos Internacionais da Universidade Metropolitana, também disse não acreditar na possibilidade de asilo na Venezuela. Na sua avaliação, um refúgio para Al-Assad em um país mais próximo à Síria, como a Rússia ou outro europeu, seria mais seguro. “A solução de um asilo na Venezuela se torna inviável pela própria segurança de Al-Assad, uma vez que ele teria de atravessar quilômetros para chegar à América Latina”, disse, em entrevista ao Correio. Caracas tem sido um dos principais aliados de Damasco — inclusive, na área da economia. Nos últimos meses, a companhia estatal energética PDVSA vendeu três carregamentos de diesel e de petróleo para a Síria, segundo o jornal venezuelano El Universal.

Nos últimos dias, cresceram as pressões internacionais sobre Damasco diante das informações do serviço secreto americano de que o regime estaria movimentando seu arsenal químico. Ontem, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que Washington está “preocupado” com a possibilidade de que Al-Assad, “cada vez mais desesperado”, possa recorrer ao uso dessas armas. No dia anterior, os chanceleres da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), incluindo Hillary, concordaram em enviar baterias antimísseis Patriot para a Turquia, que deverá instalá-las na fronteira com a Síria. Ontem, o chanceler turco, Ahmet Davutoglu, estimou que o regime sírio tenha cerca de 700 mísseis terra-terra.