O globo, n. 31647, 30/03/2020. Economia, p. 13

 

Apoio a saúde

Pedro Capetti

Gabriel Shinohara

30/03/2020

 

 

BNDES anuncia linha de R$ 2 bi para aumentar leitos do SUS

 O BNDES anunciou ontem uma linha de crédito de R$ 2 bilhões para a Saúde, para ampliação de leitos emergenciais, bem como para a compra de equipamentos médicos e hospitalares em regiões com menor infraestrutura. Com essa iniciativa, chega a R$ 97 bilhões o volume de recursos disponibilizados pelo banco de fomento para combate aos efeitos da pandemia de coronavírus. Esse total inclui os R$ 55 bilhões anunciados há uma semana, com foco nas empresas, e os R$ 40 bilhões para financiar salários de funcionários, uma medida conjunta com o Banco Central.

Segundo o presidente do BNDES, Gustavo Montezano,a ideia é que esses recursos possam expandir em mais de 15 mil o número de respiradores pulmonares sob gestão do SUS. Isso equivale a 50% da demanda total prevista para os próximos seis meses.

Também está prevista a ampliação, em 10%, do número de leitos do SUS no país. Com isso, cerca de 3 mil novos quartos seriam adicionados ao contingente público. Mais de 88 milhões de máscaras cirúrgicas poderão ser compradas com essa linha de crédito, o equivalente a um terço da demanda total do SUS projetada para os próximos quatro meses.

—A iniciativa visa facilitar o financiamento daqueles que estão provendo insumos para o Ministério da Saúde. Acreditamos que as 30 empresas que já mapeamos usarão parte desses recursos e serão capazes de suprir essa demanda —disse Montezano.

APOIO AO SETOR AÉREO

A ideia é que o BNDES financie até 100% da operação, com taxas reduzidas e prazo de concessão flexibilizado em até 15 dias. A carência é de 24 meses, com prazo de pagamento de até 60 meses.

Segundo o banco, poderão pleitear recursos empresas que trabalham na montagem de leitos provisórios, hospitais e empresas que pretendam expandir a atividade produtiva para fornecimento dos equipamentos de saúde.

Montezano afirmou ainda que, até o fim de abril, haverá uma linha de apoio emergencial ao setor aéreo, fortemente afetado pela crise. O modelo, ainda em elaboração, visa à manutenção de atividades e apoio à cadeia de fornecedores.

Os recursos serão destinados exclusivamente às operações brasileiras das empresas aéreas. O financiamento será a partir da emissão de debêntures conversíveis. O modelo funciona com uma remuneração de renda fixa para o banco, com taxa de juros mais baixas para as companhias. Se no futuro as ações tiverem valorização acima do patamar pré-crise, o BNDES receberia uma remuneração.

— Não faremos operação subsidiada — assegurou Montezano.

Segundo ele, o BNDES vem monitorando o apoio a outros setores da economia, como o de logística, mas frisou que o foco é o transporte de passageiros. Na última semana, os fretes cobrados por empresas aéreas registraram aumentos de até 1.000%.

Montezano disse ainda que o BNDES pretende criar uma linha emergencial de socorro aos estados e municípios, para ajudar no combate à pandemia.

USO DE CADASTRO MUNICIPAL

Em outra frente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o governo irá utilizar os cadastros de trabalhadores informais dos municípios como base para distribuir o auxílio emergencial de R$ 600. Ele participou ontem de duas teleconferências, uma com representantes da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), e outra com Confederação Nacional dos Municípios (CMN).

Segundo o ministro, a ideia é que os municípios enviem seus cadastros de trabalhadores informais, como ambulantes, taxistas e baleiros, para que o governo faça o pagamento de modo mais célere.

Outra possibilidade é que o Ministério da Economia repasse esses recursos aos caixas das prefeituras, que fariam o pagamento diretamente aos informais.

Guedes disse ainda que, se em dois meses o isolamento social não der resultados, será necessário que a economia volte a funcionar:

— Essa linha de equilíbrio é difícil, mas é coisa de dois ou três meses, vai rachar pra um lado ou para o outro. Ou funciona o isolamento em dois meses, ou vai ter que liberar, porque a economia não pode parar também, senão desmonta o país todo.

Guedes defendeu o isolamento social como medida para combater o aumento de casos do coronavírus, mas disse que se durar muito tempo, a economia pode entrar em colapso. Ele ressaltou a importância de manter as linhas essenciais durante a crise, como a produção e distribuição de alimentos.

—Eu como economista gostaria que pudéssemos manter a produção e voltar mais rápido. Eu como cidadão, seguindo o conhecimento do pessoal da saúde, já quero ficar em casa e fazer o isolamento.