O globo, n. 31646, 29/03/2020. Especial Coronavírus, p. 9

 

Discurso reprovado

Gustavo Schmitt

Guilherme Caetano

29/03/2020

 

 

Aliados de bolsonaro defendem dialogo para conter crise

O tom das declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia do coronavírus em pronunciamento na última terça-feira foi reprovado por aliados de segmentos importantes como abancada da bala, ruralistas, empresários, evangélicos e caminhoneiros. Contrariando as orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS), Bolsonaro defendeu o fim da quarentena sob o argumento de que acrise na economia do país poderia ter consequências piores do que a Covid-19. Entre aqueles que elegeram o presidente, ninguém gostou de ouvir a comparação da pandemia, que já matou 92 pessoas somente no Brasil até sexta-feira, com uma “gripezinha” ou “resfriado”. Mesmo diante de uma forte reação, Bolsonaro dobrou a aposta numa apresentação ao vivo numa rede social na quinta-feira e voltou a usar as mesmas expressões ao minimizar as consequências da doença e ainda acrescentou que o brasileiro tem a imunidade tão alta que“pula no esgoto e não pega nada ”.

Na última segunda-feira, uma pesquisa Datafolha divulgada pelo jornal “Folha de S.Paulo” mostrou que 35% dos entrevistados consideram o desempenho de Bolsonaro ótimo ou bom; 26% acham regular; e outros 33% avaliam como ruim ou péssimo. Cinco por cento não souberam responder. Os governadores, a quem o presidente culpa por prejuízos econômicos provocados pelo isolamento social, tiveram aprovação de 54% dos entrevistados. Embora avaliem que haja equívocos na comunicação, apoiadores de Bolsonaro nesses setores continuam com ele e evitam críticas para“não jogarem mais lenha na fogueira ”. Preocupados com o comportamento intempestivo do presidente, dizem que o país precisa de união e diálogo com os demais Poderes e os estados para enfrentara doença e acrise econômica.

Ainda assim, no conflito com os governadores, aliados estão mais sintonizados com o presidente. Defende matese de um isolamento social mais brando, de 15 dias, que seriam suficientes para alcançar o que pesquisadores chamam de “achatamento da curva” —redução nas taxas de transmissão e mortalidade pelo menor número de pessoas circulando. Em seguida, haveria uma reabertura lenta e gradual com o cuidado de manter o isolamento de grupos de risco. Empresários da indústria e do varejo defendem a necessidade de discutir e definir, agora, a hora certa para reativar os negócios. O prazo de duração da quarentena é questão-chave para avaliar os impactos sobre a economia e as medidas a serem tomadas. O presidente da Fundação Abrinq, Synesio Batista da Costa,é favorável à retomada gradual dos trabalhos da indústria brasileira:

—Gripezinha foi desnecessário. Mas é o jeito dele(Bolsonaro ), que está eleito e precisamos respeitar. Agentes e aborrece como jeito de falar, ma sé muito bom ter um presidente que entregue a economia para quem sabe. E o Paulo Guedes sabe exatamente o que fazer. A indústria não parou. Estamos a 20 por hora. Mas queremos voltara trabalhar de maneira gradual. Não podemos entrar numa histeria.