O globo, n. 31646, 29/03/2020. Especial Coronavírus, p. 10

 

Veto e recuo

Gustavo Maia

Juliana Dal Piva

29/03/2020

 

 

Justiça barra, e governo apaga posts

REPRODUÇÃONa rede. Publicação apagada pela Secom, que passou a negar a campanha
 

 

Diante de uma decisão judicial determinando sua suspensão e da repercussão negativa da campanha publicitária com o slogan “o Brasil não pode parar” que o governo federal estava preparando para lançar, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) apagou publicações com as peças e passou a negar que houvesse uma campanha com esse slogan. As peças seguiam o discurso do presidente Jair Bolsonaro a favor do isolamento vertical.

Na noite de sexta-feira, duas publicações com o mesmo slogan foram apagadas dos perfis oficiais da Secom no Twitter e no Instagram. Veio da Justiça Federal do Rio, ontem, a proibição para a União divulgar a campanha com o slogan. A decisão foi da juíza Laura Bastos Carvalho, como adiantou o colunista Ancelmo Gois. As publicações da Secom contra as medidas restritivas foram feitas na quarta, um dia após pronunciamento do presidente Jair Bolso na roem cadeia nacionalde TV sobre o combate ao novo coronavírus, no qual ele disse que “devemos, sim, voltar à normalidade”.

Os posts, com logomarca oficial da secretaria, diziam: “No mundo todo são raros os casos de vítimas fatais do coronavírus entre jovens e adultos. A quase-totalidade dos óbitos se deu com idosos. Portanto, é preciso proteger estas pessoas e todos os integrantes dos grupos de risco com todo cuidado, carinho e respeito. Para estes, o isolamento. Para todos os demais, distanciamento, atenção redobrada e muita responsabilidade. Vamos, com cuidado e consciência, voltar à normalidade. #oBrasilNãoPodeParar”.

A despeito disso, o comunicado deste sábado afirma que a informação de que havia uma campanha publicitária nesse sentido “trata-se de uma mentira, uma fake news divulgada por determinados veículos de comunicação”. "Não há qualquer veiculação em qualquer canal oficial do Governo Federal a respeito de vídeos ou outras peças sobre a suposta campanha ”, diz anota. Questionada sobre o motivo pelos quais os posts foram apagados, a Secom não se manifestou. O GLOBO apurou que as publicações foram deletadas por conta da repercussão jurídica do caso.

Em outra nota, na sexta-feira, a Secom informou que o vídeo que circulava desde a véspera nas redes sociais não se tratava de nova campanha institucional do governo, mas foi “produzido em caráter experimental, portanto, acusto zero e sem avaliação e aprovação da Secom”. Segundo o comunicado, a peça seria proposta inicial para possível uso nas redes sociais. A Secom também negou que a informação de que a campanha foi estimada em R$ 4,8 milhões, valor referente à contratação da agência iComunicação, sem licitação, para prestar serviços ao órgão por seis meses.