O globo, n. 31646, 29/03/2020. Especial Coronavírus, p. 18/19
Um país que se distanciou
Eduardo Graça
29/03/2020
Restrições à circulação urbana esvaziam metrópoles
Nos últimos dias, aos brasileiros desapareceram das ruas. Seguiram a orientação das autoridades médicas e rumaram para o outro lado das janelas. Foi uma migração para as casas jamais vista no país, como revelam os cliques de fotógrafos convidados pelo GLOBO para ilustrar o impressionante esvaziamento do espaço urbano. Apesar dos efeitos colaterais — no bolso, na cabeça, no corpo, nos relacionamentos—, milhares de pessoas decidiram pensar também nos outros.
A corrente pra frente, desta vez, foi para evitar a possível contaminação do próximo. Quanto mais vazios ficavam espaços como o Pelourinho, em Salvador, as estações de metrô e trens no Rio, ou a Praça XV, em Curitiba, diminuía um pouco a pressão nos hospitais, às voltas com a superlotação de leitos. E mais vidas eram potencialmente salvas em meio ao avanço do novo coronavírus. Moradores de todas as regiões do país não se enclausuraram, temporariamente, apenas por medo. O movimento se deu, em sua essência, por solidariedade.
O distanciamento registrado nas fotos conta uma parte da história. Voluntários ajudaram quem não pode ir ao supermercado ou comprar remédios. Um novo ritual nasceu com o aplauso diário a médicos e enfermeiros. No momento em que forem informadas de que é seguro, as pessoas se esbarrarão ao ar livre. E após este, vá lá, retiro cívico, muitas provavelmente se darão conta de que voltaram às ruas melhores do que antes da pandemia.