O Estado de São Paulo, n.46186, 31/03/2020. Economia e Negócios, p.B1

 

Servidores se mobilizam contra corte de salários

Lorenna Rodrigues

31/03/2020

 

 

Para funcionalismo, seria mais eficiente taxar grandes fortunas do que reduzir salários para combater o coronavírus

O debate sobre corte de salário do funcionalismo para dar fôlego ao setor público em tempos de coronavírus levou os servidores a reagir. Sindicatos e entidades de classe tentam organizar o discurso e intensificaram o corpo a corpo com parlamentares – virtual e por telefone, respeitando o isolamento social.

O argumento dos representantes das categorias é que o corte de salário não foi adotado em nenhum país do mundo e que tem pouco impacto financeiro. Além disso, citam a criação de um imposto sobre grandes fortunas como alternativa mais viável para aumentar a receita.

Segundo o Estadão/Broadcast apurou, o corte de salários dos servidores vem sendo discutido dentro do “pacote” de auxílio aos Estados e dependerá da evolução das discussões. Entre os pedidos apresentados por secretários estaduais de Fazenda ao governo federal está a redução de despesas obrigatórias, sendo a principal a folha de pagamento.

Diante da possibilidade que o governo deve dar para que empresas afetadas pela crise suspendam contratos temporários ou reduzam a jornada e o salário dos empregados da iniciativa privada, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pediu “a contribuição de todos os Poderes”, incluindo o funcionalismo.

“Não basta o presidente adotar posturas na qual o Brasil se isola do ponto de vista internacional, uma medida como essa seria um caso único no planeta hoje”, afirma o presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras de Estado (Fonacate), Rudnei Marques. Segundo ele, muitos servidores estão atuando no combate à epidemia, diretamente, como os funcionários da saúde e segurança, e também indiretamente. “É a Receita desembaraçando máscaras, a diplomacia tentando repatriar brasileiros presos em outros países. Por mais que o ministro Guedes tenha descaso pelo serviço público, são os ‘parasitas’ que neste momento têm de resolver as coisas”, afirmou.

Grandes fortunas. A reação dos servidores será insistir na tributação de grandes fortunas e de lucros e dividendos. O presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais (Unafisco), Mauro Silva, divulgou um estudo que mostra que a tributação de brasileiros com patrimônio acima de R$ 5 milhões e que tenham ao mesmo tempo renda total acima de 80 salários mínimos por mês (R$ 83.600) arrecadaria R$ 59 bilhões por ano. A alíquota de 4,8% seria paga por 220 mil pessoas. “Há inúmeras fontes de recursos muito mais compatíveis com a crise do que retirar dinheiro do salário de quem está no mercado de trabalho”, defendeu.

Nova alíquota

R$ 59 bi

por ano seriam arrecadados se 220 mi pessoas que tem patrimônio de R$ 5 milhões e ganham acima de R$ 83.600 por mês, pagassem uma alíquota de 4,8%, segundo estudo da Unafisco