Título: Atenção aos monumentos
Autor: Rodrigues, Gizella
Fonte: Correio Braziliense, 10/12/2012, Cidades, p. 17

Estima-se que Niemeyer deixou mais de 100 obras na capital do país. Algumas já sumiram, como as residências geminadas das quadras 700 Sul. Outras foram descaracterizadas, estão em reforma ou em péssimo estado de conservação

Para ser apresentado ao legado do arquiteto que desenhou curvas no concreto e revolucionou a arquitetura brasileira, é preciso subir a plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto. Lá de cima, é possível compreender a concepção da cidade estruturada sob dois eixos que se cruzam exatamente ali, no local construído para permitir os encontros dos brasilienses e das pessoas que a capital acolheu tão bem.

Do alto, também se tem uma primeira e deslumbrante vista da Esplanada dos Ministérios, com seus monumentos projetados por Oscar Niemeyer. Descendo e caminhando a pé em direção ao Congresso Nacional, estão obras-primas da arquitetura moderna, como o Museu Nacional, a Catedral, os ministérios e o Palácio do Itamaraty. Ao chegar à Praça dos Três Poderes e admirar as colunas do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF), o visitante entende por que Brasília é uma cidade única em todo o mundo.

O percurso é óbvio e encanta turistas e brasilienses que não se cansam de contemplar a beleza da capital da República. Mas as obras de Niemeyer vão além. Estão espalhadas por todos os cantos do Plano Piloto e também podem ser vistas em outras regiões administrativas, como Ceilândia e Sobradinho.

Além de monumentos, Niemeyer fez prédios que nem de longe se parecem com as suntuosas edificações erguidas ao longo do Eixo Monumental, como edifícios comerciais no Setor Comercial Sul e residenciais nas superquadras 107 e 108 Sul. Projetou igrejas, casas, hospital, palácios, museus. Uma infinidade criativa que se estendeu até meses antes de sua morte. O último projeto dele construído em Brasília foi a Torre de TV Digital, concebida em 2008, quando Niemeyer já tinha 101 anos.

Previsão Ninguém sabe ao certo quantos projetos o arquiteto fez em Brasília, mas estima-se que são mais de 100. Alguns deles já sumiram, como as residências geminadas das quadras 707, 708, 711 e 712 Sul. Outros são descaracterizados aos poucos, estão em reforma ou em péssimo estado de conservação. Com ajuda do livro Brasília 50 anos: guia de obras de Oscar Niemeyer, de Silvia Ficher e Andrey Schlee, publicado em 2010 pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) e pela Câmara dos Deputados, o Correio listou 25 obras e percorreu todas elas para mostrar como está a manutenção de cada uma.

Alguns edifícios merecem atenção, como o Teatro Nacional, a Concha Acústica, o Complexo Cultural da República, a Rodoferroviária, o Touring, a Capela Dom Bosco e a Casa do Cantador, em Ceilândia. Dessas, quatro são de responsabilidade da Secretaria de Cultura do DF, além de outras quatro edificações. A atual gestão da secretaria reformou o Catetinho, o Panteão da Pátria e está recuperando o Cine Brasília. Obras para a Concha Acústica, o Teatro Nacional e a Casa do Cantador estão previstas para o ano que vem.

“Antes, o Estado só agia quando o local já não tinha mais condições de funcionar. Agora, estamos mudando essa postura. Primeiro vamos recuperar os edifícios e depois apresentar um plano de manutenção que possa diagnosticar problemas e propor ações necessárias para evitar a degradação”, afirma o subsecretário do Patrimônio Cultural do DF, José Delvinei Santos. A Secretaria de Cultura pediu uma quantia de R$ 75 milhões na Lei Orçamentária de 2013 para investir na recuperação do patrimônio cultural do DF e de outros equipamentos que não são tombados.

Na avaliação do superintendente regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), José Leme Galvão, o legado de Niemeyer está, de uma maneira geral, bem preservado. “Às vezes, ocorre uma lentidão na realização de uma determinada obra, mas o GDF tem se virado bem e não fica esperando ações do governo federal, como ocorre em outras cidades brasileiras”, elogia.

Para Galvão, três edifícios merecem cuidado especial neste momento: a antiga Rodoferroviária, que está sendo descaracterizada pela ocupação de órgãos do GD; o Touring Clube do Brasil, vendido para a iniciativa privada e em péssimo estado de conservação; e o Teatro Nacional, que demanda uma recuperação geral. “Não é só na fachada nem na estrutura do prédio, mas a função do teatro está prejudicada, com a qualidade do som e dos acentos, por exemplo”, afirma Galvão.

"Às vezes, ocorre uma lentidão na realização de uma determinada obra, mas o GDF tem se virado bem e não fica esperando ações do governo federal, como ocorre em outras cidades brasileiras” José Leme Galvão, superintendente regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)

"Primeiro vamos recuperar os edifícios e depois apresentar um plano de manutenção que possa diagnosticar problemas e propor ações necessárias para evitar a degradação” José Delvinei Santos, subsecretário do Patrimônio Cultural do DF