Título: A cartada do jogador
Autor: Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 12/12/2012, Política, p. 5
O depoimento do empresário Marcos Valério à Procuradoria Geral da República (PGR), em setembro, denunciando o envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema de pagamento de propina a parlamentares da base aliada em troca de apoio político, já vinha se desenhando desde a instauração do inquérito pela Polícia Federal, em 2005. Pelo menos por seis vezes, Valério procurou espontaneamente o delegado Luiz Flávio Zampronha, presidente do inquérito e então coordenador da Divisão de Combate aos Crimes Financeiros. Apesar de recebido, ele nunca se dispôs a dar detalhes do esquema. Como bom jogador, a atitude do empresário sempre foi interpretada como o envio de um "recado" aos protagonistas do mensalão.
Antes do depoimento de setembro, o mais evidente recado enviado por Valério ocorreu em fevereiro de 2007, no dia da posse dos deputados eleitos para aquela legislatura. Mais uma vez, o empresário procurou a polícia e pediu uma audiência. Ele compareceu acompanhado de seu advogado, Marcelo Leonardo, tomou café e depois de jogar conversa fora deixou o "Máscara Negra" — como é conhecido o edifício sede da Polícia Federal, em Brasília —, sem tocar em qualquer assunto relativo ao esquema. No entanto, sem conhecimento do delegado Zampronha, o empresário convocou a imprensa para uma entrevista coletiva. Na saída, Valério apenas reafirmou que, apesar de ter sido convocado pela PF, se manteve em silêncio mais uma vez.
Não à toa o mais recente depoimento do empresário está sendo visto com reserva até mesmo pela PGR. Além de denunciar o envolvimento de Lula, que teria sido o verdadeiro avalista do esquema, e não o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, Valério relatou ter sido ameaçado de morte por Paulo Okamotto, atual diretor do Instituto Lula e amigo do ex-presidente.
Essa não seria a primeira ameaça de morte que ele disse ter sofrido. Em 2009, depois de deixar a Penitenciária II do Presídio de Tremembé, no interior de São Paulo, a 138km da capital, o empresário deixou vazar à imprensa fotos em que aparecia com 20kg a menos e com os dentes da frente quebrados. Segundo ele, a intimidação partiu de integrantes do grupo criminoso Primeiro Comando da Capital (PCC). Para deixar o presídio com vida, teria sido obrigado a fazer um acordo com o advogado Jeronymo Ruiz Andrade do Amaral, considerado o chefe do departamento jurídico do PCC.