Título: Guerra de relatórios na CPI
Autor: Almeida, Amanda ; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 12/12/2012, Política, p. 8

Além do texto elaborado por relator, parlamentares discutem cinco versões alternativas. Votação é adiada e trabalhos podem ser encerrados sem um documento final sobre a quadrilha de Carlinhos Cachoeira

A votação do documento final sobre as investigações da CPI do Cachoeira foi adiada pela segunda vez devido à falta de acordo em relação a qual relatório será votado. Além do texto do relator, Odair Cunha (PT-MG), cinco parlamentares tentam emplacar suas versões. Diante do impasse, uma nova reunião foi marcada para a próxima terça-feira, a apenas três dias do fim dos trabalhos da comissão que investiga as relações e a teia de negócios do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e ainda sem a garantia de que haverá algum texto aprovado.

O PT admite que o relatório de Odair pode ser rejeitado pela maioria dos integrantes da comissão e já trabalha com o possível cenário. "Ou vota a nossa proposta ou a CPI não terá relatório nenhum", avisou um parlamentar petista. O relator está disposto a esticar a corda até o último dia de funcionamento da CPI, 22 de dezembro, para aprovar seu texto. Ontem, mais uma vez, ele admitiu mais mudanças no documento: "Analisarei todas as sugestões dos colegas".

O relatório do petista foi novamente alvo de fortes ataques de integrantes da comissão. "Isso não é uma peça investigativa, é um material de campanha que será usado nas eleições", acusou o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). Em contra-ataque ao PT, os tucanos apresentaram voto em separado, em que pedem o indiciamento do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que teria prestado consultoria por dois anos à Delta para facilitar o trânsito da construtora no governo federal.

Além do senador Alvaro Dias (PSDB-PR), que protocolou o texto dos tucanos, quatro parlamentares têm propostas alternativas. O senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) pede o indiciamento de quatro governadores. Já o deputado Rubens Bueno (PPS-SP) quer mais investigações sobre esses políticos.

Ministério Público O deputado Ônix Lorenzoni (DEM-RS) traz longo relatório sobre os repasses da Delta a empresas fantasmas. Já o deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF) apresenta o voto mais sucinto entre os alternativos: em duas páginas, critica as investigações da CPI, diz que não conseguiu avançar sobre os assuntos tratados e quer apenas que as informações reunidas sejam encaminhadas ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal.

Foram feitas ainda 10 sugestões ao relatório de Odair, sendo a maioria do senador Fernando Collor (PTB-AL). Ele pede que os trechos com o pedido de indiciamento do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e o dos jornalistas sejam incluídos novamente no texto. Odair abriu mão de indiciá-los para conseguir mais votos para o relatório, já que muitos líderes partidários reclamaram especificamente desses trechos.

Linha do tempo Confira como o bicheiro Carlinhos Cachoeira se tornou conhecido no cenário nacional enquanto construía um império com a exploração da jogatina

2004 Carlinhos Cachoeira ganha destaque na mídia após a divulgação de um vídeo, gravado por ele, no qual Waldomiro Diniz, na época assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, negocia propina.

29 de fevereiro de 2012 Oito anos após o escândalo, Cachoeira voltou ao noticiário nacional ao ser preso pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, acusado de chefiar uma quadrilha que explorava o jogo ilegal em Goiás e no Entorno.

1º de março O bicheiro é levado para o presídio federal de Mossoró (RN).

4 de março Reportagens divulgam as ligações entre o então senador Demóstenes Torres e Cachoeira. O Correio revela que Demóstenes e Cachoeira conversaram 298 vezes por telefone entre fevereiro e agosto de 2011.

6 de março Em discurso no Senado, Demóstenes nega as relações com Cachoeira.

18 de abril Cachoeira é transferido para a Papuda.

19 de abril Criada CPI para investigar a relação de Cachoeira com políticos e empresas.

11 de maio O MPDFT denuncia Cachoeira por formação de quadrilha e tráfico de influência.

22 de maio Cachoeira se recusa a depor na CPI.

10 de julho O mandato de Demóstenes é cassado.

20 de novembro Carlinhos Cachoeira consegue a liberdade.

7 de dezembro Condenado na ação resultante da Operação Porto Seguro, o bicheiro é preso novamente pela PF, em Goiânia.