Valor econômico, v.20, n.4983, 17/04/2020. Brasil, p. A2

 

Brasil e México são os que menos respeitam o isolamento na AL

Arícia Martins

17/04/2020

 

 

Apesar do isolamento social necessário para conter a pandemia de coronavírus contar com o apoio da opinião da maioria da população brasileira, o país, ao lado do México, é o menos comprometido com medidas de restrição à mobilidade na América Latina. É o que mostra levantamento feito pela equipe de estrategistas para o continente do J.P. Morgan, a partir de dados do Google e da startup In Loco.

Em relatório divulgado ontem, os analistas Emy Shayo Cherman, Pedro Martins Junior, Nur Cristiani e Diego Celedon afirmam que, a despeito da quarentena adotada em vários Estados e municípios, os brasileiros não têm cumprido rigorosamente o distanciamento social, tendência que vem se acentuando.

Entre seis países latino-americanos, o Brasil é o que teve a segunda menor redução média na movimentação de pessoas, de 38%, entre 3 e 5 de abril. O cálculo foi feito a partir do relatório de mobilidade comunitária do Google.

A empresa mede a frequência da população em restaurantes, parques, lojas e outros estabelecimentos, a partir das informações de localização de telefones celulares, nos dias de sexta, sábado e domingo, e a compara com o padrão normal para o período. A queda do índice no fim de semana terminado em 5 de abril só foi mais fraca no México, onde houve recuo de 33%. Na outra ponta, o dado caiu 69% no Peru.

Os países em que o confinamento tem sido menos respeitado são aqueles em que a popularidade de seus governos diminuiu após a covid-19 se disseminar pelo continente. Antes da eclosão da pandemia no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro contava com 34% de aprovação, percentual que caiu para 28% após o surto, observa o banco, citando pesquisa da XP Investimentos. Já no México, o índice do presidente Andrés Manuel López Obrador recuou de 70% para 56%.

No Brasil, o pico do contágio deve ser atingido entre o fim de abril e começo de maio, quando o total de casos no país - em 30.425 até ontem, de acordo com o Ministério da Saúde - deve chegar a 80 mil, segundo projeção dos analistas do J.P. Domingos Falavina e Joseph Giordano. "O exemplo da vasta maioria dos países exigiria que o distanciamento social fosse observado pelo menos até o pico da infecção", ressaltam os estrategistas.

No entanto, a população brasileira tem saído mais de casa. É o que aponta o Índice de Isolamento Social da In Loco, construído a partir de informações de 60 milhões de celulares. A startup considera que aqueles que não ultrapassam um raio de 450 metros de suas residências estão isolados.

Citando esses dados, o banco destaca que, na semana iniciada em 23 de março - quando medidas de quarentena foram anunciadas em grande parte das capitais -, o confinamento foi respeitado por 56% das pessoas de segunda a sexta, e por 61% delas no sábado e domingo. Na semana do dia 30, esses percentuais recuaram para 51,3% e 57,9%, respectivamente, e voltaram a diminuir na semana começada em 6 de abril, para 49,1% e 56,8%. E, na última segunda, dia 13, o índice atingiu 47,7%.

"Algo amplamente considerado um passo comum para achatar a curva de covid-19 de modo a não sobrecarregar os sistemas públicos de saúde é controverso no Brasil", alertam os analistas. "De um lado, o ministro da Saúde [Luiz Henrique Mandetta, demitido ontem] e vários governadores falam para as pessoas ficarem em casa. Do outro, Bolsonaro e seus apoiadores acreditam que o desemprego é um inimigo maior do que a doença e pedem que negócios não essenciais sejam reabertos o mais rápido possível."

Em São Paulo, onde o índice da In Loco ficou em 48% nesta segunda, o governador João Doria (PSDB) tem afirmado que o ideal é que o isolamento alcance 70% da população, sendo 60% um nível tolerável, observam os analistas do J.P. Morgan. "Assim, é possível que medidas de quarentena mais rigorosas sejam implementadas em Estados onde os governadores estão exigindo que o isolamento social seja estritamente respeitado."

Ainda com base nos dados da In Loco, o J.P. destaca que, entre os seis Estados com maior número de casos - São Paulo, Rio, Minas Gerais, Ceará, Pernambuco e Amazonas -, apenas o último tem índice de isolamento menor do que a média nacional.

Segundo o banco, a aderência da população de cada Estado ao confinamento não tem correlação elevada com variáveis como renda média familiar per capita, percentual de trabalhadores informais, total de casos confirmados e densidade demográfica. A análise precisa ser feita caso a caso, observa o J.P. Morgan.

De qualquer forma, dados estaduais também indicam menor nível de comprometimento dos brasileiros com a quarentena. Na última segunda, nove Estados registraram aumento na mobilidade de suas populações, contra sete na semana de 6 de abril e quatro na semana de 30 de março.

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Número de casos da doença cresce 7,4% no país 

17/04/2020

 

 

O Brasil registrou 188 novas mortes pelo novo coronavírus nas últimas 24 horas, segundo dados do Ministério da Saúde. São até agora 1.924 óbitos pela covid-19 confirmados no país.

Os números do ministério também apontam que há 30.425 casos confirmados da doença, alta de 7,4% na comparação com o dia anterior. A pasta, porém, tem informado que o número real de casos tende a ser maior, já que só pacientes internados em hospitais fazem testes e há casos represados à espera de confirmação.

O Estado mais atingido é São Paulo, com 11.568 casos confirmados e 853 óbitos. O Rio de Janeiro aparece na sequência, com 3.944 casos e 300 mortes. Pernambuco tem 160 mortes e 1.683 casos. Ceará e Amazonas já somam 124 mortes cada um e 2.386 e 1.719 casos, respectivamente. Todas as unidades da federação já registraram mortes em decorrência da doença.

No caso de São Paulo, seis hospitais públicos localizados na capital paulista alcançaram a taxa de ocupação de leitos de UTI de pelo menos 80%.

Na zona leste da capital, três instituições lotaram. Os hospitais municipais Tide Setúbal, Cidade Tiradentes e Ermelino Matarazzo estão com 100% de ocupação dos leitos, segundo o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido.

No Instituto Emílio Ribas, na região central, 93% dos leitos de UTI e 61% de enfermaria estão ocupados. O Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte, tem 86% dos leitos ocupados na UTI e 53% na enfermaria. O retrato é momentâneo: na véspera, a UTI do Emílio Ribas bateu em 100% de lotação.

Na capital paulista, dos 19 hospitais públicos, nove foram referenciados ao tratamento da covid-19. A taxa média de ocupação dos leitos está em 65%, mas na zona leste a situação é crítica.

Ontem, havia 1.264 internações de casos confirmados para covid-19 em enfermarias do Estado de São Paulo e 1.115 em leitos de UTI. Além disso, 2.393 pessoas estavam internadas em enfermarias com suspeita de infecção pelo novo coronavírus, e outras 1.421, na UTI.

"É um dado importante para definirmos a estratégia de qual serviço devemos investir mais e ampliar. A tendência é que migrem dos casos suspeitos para os confirmados, uma vez que começaremos a contar com número bem maior de confirmação por [teste] PCR, que está chegando no Butantã", explicou o diretor do Instituto Emílio Ribas, Luiz Carlos Pereira Júnior.