Valor econômico, v.20, n.4983, 17/04/2020. Brasil, p. A4

 

Projeção para Brasil era baixa antes do vírus, diz Fundo

Anai's Fernandes 

17/04/2020

 

 

O ritmo da retomada econômica esperado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Brasil em 2021, após o choque da covid-19 neste ano, é menor do que o previsto para seus pares latino-americanos, apesar de o país também ter uma perspectiva de tombo maior em 2020. A explicação, porém, "não tem nada a ver com ambiente político", mas com limitações estruturais, afirma Alejandro Werner, diretor para o Hemisfério Ocidental do FMI.

Nas projeções da entidade, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve cair 5,3% neste ano, acima da média de 5,2% para América Latina e Caribe e perdendo, na abertura disponibilizada por país, apenas para México (-6,6%) e Argentina (-5,7%). Para 2021, o FMI prevê que a economia da região crescerá 3,4%, chegando a 5,3% no Chile e 5,2% no Peru. No Brasil, no entanto, o avanço seria de 2,9% - no México, de 3%, e, na Argentina, de 4,4%.

Segundo Werner, a projeção de queda para este ano considera que o Brasil será afetado por medidas de contenção do vírus, recessão global, redução nos preços das commodities e aperto nas condições financeiras a emergentes.

Já sobre a recuperação mais lenta, Werner afirmou que o Brasil tem um PIB potencial muito menor do que outros países por razões estruturais, como o baixo nível de investimentos e a economia ainda muito fechada. "Em média, não vemos a economia brasileira crescendo na velocidade de Chile e Peru", ele disse em videoconferência durante o encontro de primavera do FMI com o Banco Mundial.

Werner observa que o avanço esperado para o PIB brasileiro já era relativamente baixo mesmo antes da pandemia. A crise da covid-19 "adiou" para 2021 um comportamento que já estava, em boa medida, na conta do Fundo, "atrasando uma aceleração perto de 3% para o ano que vem", diz Werner. Em janeiro, o FMI previa que o PIB do país avançaria 2,2% em 2020 e 2,3% em 2021.

O diretor diz esperar que as reformas estruturais que começaram em 2019 e estavam em debate neste ano possam avançar após a fase aguda da atual crise, colocando a economia brasileira no caminho para um crescimento mais acelerado, com maior nível de investimento e produtividade. Mas Werner evitou dizer qual seria o momento certo para retomar esse debate, lembrando que governos ao redor do mundo estão "extremamente ocupados lidando com o que é urgente", ou seja, o combate ao vírus. "Eu não sei se é possível fazer agora, em três meses, em quatro meses. O que eu sei é que há significativo comprometimento do governo brasileiro, do Legislativo e da sociedade para dar continuidade a essas reformas", afirma.

Sobre a América Latina e o Caribe, Werner alertou que a região caminha para a pior recessão já registrada e que se depara com o "fantasma" de outra "década perdida" - entre 2015 e 2025 -, já que, antes mesmo da covid-19, países do grupo sofriam com crises econômicas e políticas, queda no preço das commodities e problemas no balanço de pagamentos.