Valor econômico, v.20, n.4983, 17/04/2020. Política, p. A7

 

Presidente parte para o ataque contra Maia, após crítica à demissão

Murillo Camarotto

Raphael Di Cunto

Marcelo Ribeiro 

Renan Truffi

Malu Delgado

17/04/2020

 

 

Poucas horas depois de os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), terem assinado um comunicado conjunto condenando a demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o presidente Jair Bolsonaro fez um duro ataque ao parlamentar fluminense, virtualmente encerrando qualquer possibilidade de diálogo. O bombardeio foi feito em entrevista na CNN Brasil.

O presidente insinuou que Maia estaria conspirando para criar instabilidade em seu governo. "Quando você fala em diálogo, a gente sabe o seu tipo de diálogo e comigo você não vai arrumar", afirmou Bolsonaro. "O Brasil não merece o que o Rodrigo Maia está fazendo", disse o presidente. Bolsonaro classificou como "escandalosas" as medidas que têm sido aprovadas pela Câmara e disse que o presidente da Câmara "não conversa com mais ninguém". Ele se queixou da aprovação de uma proposta da Câmara que amplia auxílio a Estados e municípios, afirmando que Maia quis "meter a faca no governo federal".

Rodrigo Maia não devolveu na mesma moeda. "Não vou de forma nenhuma responder no nível que ele quer que eu responda. Ele joga as pedras, a gente vai jogar flores" disse o presidente da Câmara, sorrindo, em entrevista à mesma emissora. "O presidente ataca em um velho truque da política, o de trocar o tema da pauta", disse.

Com o comunicado, Maia e Alcolumbre enviaram ao Palácio do Planalto o recado de que esperam que a saída de Mandetta não tenha sido feita com o objetivo de "insistir numa postura que prejudica a necessidade do distanciamento social". Para ambos, isso estimula "um falso conflito entre saúde e economia".

"O ministro Luiz Henrique Mandetta foi um verdadeiro guerreiro em prol da saúde pública nesse período em que esteve à frente do Ministério, especialmente no enfrentamento firme à covid-19. O trabalho responsável e dedicado do ministro foi irreparável. A sua saída, para o país como um todo, nesse grave momento, certamente não é positiva e será sentida por todos nós", escreveram os presidentes da Câmara e do Senado.

O DEM já aguardava uma ofensiva de Bolsonaro a Rodrigo Maia. O partido, no entanto, está cada vez mais coeso. Em relação às tentativas de Bolsonaro de atrair o presidente do Senado para um papel de interlocutor direto da Presidência, isolando o poder político de Maia, um dirigente do partido assegura que a intriga não terá efeito. "Alcolumbre não é bobo. Ele derrotou Sarney. E já percebeu que vai ter mais muito mais estabilidade perto do Rodrigo do que de Bolsonaro", simplificou um dirigente da sigla. Alcolumbre e Maia, argumentam políticos do DEM, têm projetos políticos não conflitantes e paralelos e, portanto, sabem que se fortalecem estando um ao lado do outro.

Sobre os constantes conflitos de Maia com o ministro Paulo Guedes, o DEM interpreta que o presidente da Câmara não tinha outra saída diante das posturas do titular da Economia, cada vez mais fechado com Bolsonaro e, segundo o partido, demasiadamente insensível às mortes provocadas pela pandemia.