Título: A hora da oposição
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 12/12/2012, Mundo, p. 20

Enquanto o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, atravessa um momento de fragilidade em decorrência de sua luta contra o câncer, a oposição vê um momento para consolidar sua força política. O líder ausentou-se de Caracas para se submeter a um tratamento, em Cuba, na última semana de campanha das eleições regionais, marcadas para domingo. A quarta cirurgia em 18 meses ocorreu no fim da tarde de ontem (hora local). Pesquisas mostram que o governador Henrique Capriles é o favorito em Miranda, um dos principais departamentos (estados) em disputa. Capriles enfrentou Chávez no pleito presidencial de outubro e, apesar de ter sido derrotado, seu desempenho — 44% dos votos — foi o melhor da oposição desde a chegada do líder bolivariano ao poder, há 14 anos. Se o presidente não estiver apto a tomar posse em 10 de janeiro, como determina a Constituição do país, um novo pleito será realizado em 30 dias. Candidato único da oposição, Capriles é o mais cotado para disputá-lo.

Diretor do Centro de Investigação em Políticas Comparadas da Universidad de Los Andes (em Caracas), Alfredo Ezequiel Ramos Jiménez, afirmou que se a oposição conseguir manter ou ampliar seu poder regional — atualmente, governa 7 dos 24 estados —, demonstrará mais força para disputar uma nova eleição presidencial. Segundo o cientista político, a gravidade da doença de Chávez favoreceu os candidatos estaduais da oposição. "Os candidatos chavistas, que pareciam fortes, estão mais reclusos. Há um tipo de desmoralização no partido nesse momento", afirmou, em entrevista ao Correio.

A situação é mais emblemática para Capriles, que governa Miranda, o segundo estado mais populoso e vizinho a Caracas. As pesquisas de intenção de voto apontam seu favoritismo. De olho no resultado dessa importante localidade, logo depois das eleições de outubro, Chávez designou o então vice-presidente Elías Jaua para enfrentar o opositor. No lugar de Jaua, assumiu o chanceler Nicolás Maduro, anunciado pelo próprio presidente o herdeiro do chavismo, no último domingo. Pela primeira vez, em 14 anos, um vice-presidente ocupa a Presidência da Venezuela interinamente.

Capriles foi escolhido candidato único de uma coligação de partidos opositores, a Mesa da Unidade Democrática (MUD), criada para enfrentar o presidente nas urnas. Embora Chávez tenha vencido, a oposição ultrapassou a marca de 40% dos votos mantida desde 1998, início do governo bolivariano. Capriles obteve 6,5 milhões de votos. No caso da ausência do presidente, segundo Jiménez, as chances do governador aumentam na disputa com Maduro. Sem a figura de Chávez, outros candidatos acreditarão ter chances de enfrentar o herdeiro chavista. Para se manter como líder opositor, a vitória em Miranda é vital para Capriles.

Divisões

Em mais de 14 anos no poder, Chávez personificou seu projeto político para a Venezuela. O pedido por unidade em torno de Maduro pode não ter sido suficiente para transferir seu capital político ao nome governista. Seu esforço para institucionalizar o que chamou de "socialismo do século 21" nos últimos dias pode ter ajudado a aplacar dúvidas sobre o vice, como afirmaram analistas políticos venezuelanos ao Correio. Mas ele não sana todas as divisões, como salientou Jiménez, acrescentando que elas ficam evidentes entre os dois lados do chavismo, o civil e o militar. "Existem rumores na Venezuela apontando que o setor civil já estaria em conversações com a oposição", disse.

Desde o anúncio de Chávez reconhecendo a gravidade da doença, no sábado, a oposição culpou o governo por ter escondido a verdade. Ontem, em entrevista ao jornal espanhol ABC, o secretário da MUD, Ramón Guillermo Aveledo, disse que o presidente não atuou com "transparência". O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Diosdado Cabello, acusou os membros da oposição de serem "mórbidos" por insistirem em pedir as informações sobre o câncer do presidente.