Valor econômico, v.20, n.4981, 15/04/2020. Política, p. A7

 

Bolsonaro e Alcolumbre se encontram e Senado adia votação

Renan Truffi

Matheus Schuch

15/04/2020

 

 

O Palácio do Planalto mobilizou seus líderes e a base aliada no Congresso para tentar reverter no Senado a derrota que sofreu na Câmara, com aprovação do projeto que estabelece uma espécie de socorro emergencial aos Estados e municípios, por meio da recomposição pela União da queda da arrecadação do ICMS e do ISS. A ofensiva pode esbarrar na pressão que tem sido feita por prefeitos e governadores junto aos seus representantes na Casa revisora.

A proposta está sendo tratada como “pauta-bomba” por representar um custo de aproximadamente R$ 89 bilhões para as contas da União. Por conta disso, o presidente Jair Bolsonaro entrou na articulação política.

A proposta foi um dos assuntos abordados num café da manhã realizada ontem, no Palácio da Alvorada, entre Bolsonaro e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), com quem andava distanciado. Apesar de terem mencionado a medida de forma genérica, o encontro serviu como um gesto de “aproximação”. Segundo uma fonte, a conversa entre os dois aconteceu a convite de Bolsonaro e terminou sendo “positiva”.

“Davi disse que foi uma boa conversa. A relação entre os dois não estava boa”, contou um interlocutor próximo. Durante o encontro, Bolsonaro sinalizou que avaliava ser importante, para o governo, ter um bom relacionamento com o Congresso e Alcolumbre respondeu “estar sempre aberto ao diálogo”.

Horas depois da conversa, Alcolumbre anunciou que não deve pautar o socorro emergencial esta semana em função do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), estar postergando a votação de algumas das matérias elaborados pelos senadores.

A informação já havia sido compartilhada por Alcolumbre com o presidente no café da manhã, segundo o relato do próprio Bolsonaro. “Conversei com ele hoje de manhã [ontem], não deve votar [o projeto]... vai votar, mas não deve ser esta semana”, disse o presidente no fim do dia.

Apesar disso, os líderes do governo terão de se desdobrar para vencer a influência e proximidade que alguns dos senadores têm com seus governadores e prefeitos. Ciente desse obstáculo, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), procurou sinalizar com uma “adequação” no texto que seja mais interessante e possa amenizar as “cobranças”.

“Todos nós estamos sendo cobrados pelos nossos prefeitos e governadores, mas precisamos fazer isso com critério, que me parece que não tem na proposta da Câmara, e precisamos ter mais profundidade na análise dos números”, disse durante sessão deliberativa.

Segundo Bezerra, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem sinalizado com uma ajuda “mais vultosa”, mas por meio de outros mecanismos. “Repito que precisamos sair com apoio imediato para Estados e municípios, tanto assim que estou defendendo junto ao governo federal que a gente possa editar até amanhã uma medida provisória com o governo fixando os valores que julga adequados. Nas primeiras conversas, o ministro Paulo Guedes tem admitido uma assistência financeira que pode chegar até a R$ 127 bilhões, sendo que R$ 66 bilhões a fundo perdido, só que através de outros mecanismos.”