Correio braziliense, n. 20783 , 17/04/2020. Brasil, p.7

 

Ceará ocupa 100% dos leitos de UTI

Maíra Nunes

17/04/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Estado registrou 48 pessoas na fila por vaga na emergência, ontem, antecipando em uma semana o limite das ocupações calculado pela secretaria de Saúde. Também há caos no Amazonas, que corre contra o tempo para abrir novos leitos; São Paulo e Rio acendem o alerta

Como temia o Ministério da Saúde, no começo da pandemia do novo coronavírus no Brasil, o sistema de saúde de alguns estados começa a colapsar. Pacientes no Amazonas se queixam da falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde o fim de semana. O Ceará registrou 48 pessoas na fila por vaga na UTI, ontem, antecipando em uma semana o limite das ocupações calculado pela Secretaria de Saúde do estado. Enquanto isso, São Paulo e Rio de Janeiro acendem o alerta.

Em aceleração descontrolada, o Amazonas registrou mais 165 casos de Covid-19, ontem, chegando a 1.719 casos confirmados da doença. A maioria se concentra em Manaus, com 1.459 infectados, enquanto 260 são do interior do estado. Só no último dia, foram registradas mais 18 mortes em decorrência do novo coronavírus na unidade federativa, sendo 16 da capital amazonense. São 124 óbitos no total.

Resultado triste do colapso do sistema de saúde, que já não consegue dar conta dos pacientes que procuram por assistência médica. Segundo a Secretaria de Saúde (Susam) e a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), há 208 pacientes internados em UTIs no Amazonas, sendo 111 na rede pública. Outras 480 pessoas com suspeita ou confirmação da doença estão internadas em leitos clínicos, sendo 39 da rede pública.

O governador Wilson Lima anunciou a abertura de mais 45 leitos no Hospital Delphina Aziz, sendo 25 de UTI e 20, clínicos. Ele disse, também, que o hospital de retaguarda na Universidade Nilton Lins, com capacidade para 400 leitos, começa a funcionar no próximo fim de semana.

No Ceará, a disseminação do vírus se apresenta mais acelerada do que a previsão para o momento. As vagas para UTIs se esgotaram uma semana antes do calculado pelas autoridades do estado. Com 169 pessoas hospitalizadas nesse tipo de leito, o Ceará já registrava 48 pacientes na fila de espera por UTI, na manhã de ontem, conforme comunicou a secretária-executiva de Vigilância e Regulação da Secretaria da Saúde (Sesa), Magda Almeida.

“A pressão assistencial, independentemente dos números, é muito grande sobre os leitos de UTI, porque não conseguimos abrir todos os 800 leitos que a gente projetava. Nossos respiradores não foram entregues e estamos com muitos problemas em relação a isso. Nesse momento, apesar de não estarmos no pico esperado da epidemia, estamos com leitos de UTI em ocupação máxima”, explicou Magda.

Em São Paulo, a média de ocupação dos leitos de UTI no estado gira em torno de 60%, segundo José Henrique German, secretário estadual de saúde. A taxa pode aparentar relativa tranquilidade, mas German reconheceu que alguns hospitais no estado já apresentam gargalos. “Aqueles que estão no nosso quadrilátero, perto do Hospital das Clínicas (HC), têm 80% de ocupação”, informou. Em todo o estado, há 1.135 pacientes internados em UTIs e 1.241 em leitos de enfermaria. “Agora, os pacientes internados também devem começar a ter alta. Existe um giro de leitos, em que o cálculo que fizemos é de 15 dias de ocupação para cada leito”, completou.

Para tentar frear um possível colapso, o governo do estado de São Paulo antecipou a abertura do novo Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Campinas. Previsto inicialmente para o fim de abril, o local foi aberto na última segunda. Estão em funcionamento 15 leitos de clínica médica e 10 leitos de UTI para o combate da Covid-19, o que pode ser ampliado. Será o maior AME do estado.

Na capital paulista, a taxa de ocupação é maior: 65%. Mesmo com nove hospitais referenciados para o tratamento da Covid-19 na cidade, há regiões onde o sistema de saúde público está mais pressionado do que em outras. “A região leste da cidade é a de maior pressão por leitos”, afirmou Edson Aparecido, secretário da saúde da prefeitura de São Paulo. Segundo ele, ontem, três hospitais da região atingiram o limite de vagas em UTIs.

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Telemedicina liberada

Fernanda Strickland*

Marisa Wanzeller*

17/04/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro sancionou a lei que autoriza o uso da chamada telemedicina enquanto durar a crise provocada pela Covid-19, mas vetou a validade das receitas médicas virtuais emitidas sem assinatura eletrônica certificada, alegando riscos de “fácil adulteração”. O projeto que deu origem à lei foi aprovado pelo Congresso no fim de março, com o objetivo de desafogar hospitais e centros de saúde ao permitir o atendimento remoto de pacientes, por meio de recursos tecnológicos, como videoconferências. O texto sancionado foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) de ontem.

A lei autoriza o uso da telemedicina durante a crise do novo coronavírus “em caráter emergencial” e define a modalidade como “o exercício da medicina mediado por tecnologias para fins de assistência, pesquisa, prevenção de doenças e lesões e promoção de saúde”. Bolsonaro também barrou a ampliação desse modo de atendimento após o fim da pandemia, o que, segundo o texto original, deveria ser regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Na prática, a telemedicina já está em uso no país desde março, quando o CFM liberou esse modo de atendimento por causa do avanço do novo coronavírus. Ainda em março, o Ministério da Saúde publicou portaria para regulamentar atendimentos médicos a distância excepcionalmente durante o período da pandemia. A modalidade pode ser usada para atendimento pré-clínico, de suporte assistencial, de consulta, monitoramento e diagnóstico no Sistema Único de Saúde (SUS) ou na rede privada.

O urologista Wellington Alves Epaminondas atende em hospital e clínica no DF, por meio de telemedicina, há duas semanas. Segundo o profissional, os resultados das consultas foram positivos, tanto para ele quanto para os pacientes. “Utilizando a ferramenta de vídeo, eu consigo fazer uma consulta nos mesmos moldes que eu faço com os meus pacientes em consultório”, diz.

Apesar da praticidade, o urologista afirma que a telemedicina tem limitações e, para ele, jamais poderá substituir o atendimento presencial. “A principal limitação é quando precisa haver contato físico com o paciente, ou seja, quando eu preciso fazer um exame físico no paciente”, pontua. Para esses casos, uma possibilidade apresentada é o atendimento híbrido, no qual uma parte da consulta se dá por videochamadas e outra, presencialmente, em um segundo momento, visando a menor exposição possível do paciente.

Para o médico, a telemedicina pode continuar pós-pandemia. “Vai acrescentar naqueles casos em que os pacientes precisam se deslocar grandes distâncias para chegar ao seu médico”.

*Estagiárias sob a supervisão de Andreia Castro