O globo, n. 31668, 20/04/2020. Especial Coronavírus, p. 5

 

À beira do colapso

Giuliana de Toledo

Lucas Altino

Thiago Herdy

20/04/2020

 

 

Estados já enfrentam falta de leitos de uti para covid-19 

 

BRUNO KELLY/REUTERSContra o tempo. Equipe trabalha em UTI de Manaus: governo do Amazonas admite que rede pública de saúde já apresenta “insuficiência” devido à pandemia

 Em ritmo acelerado, a ocupação dos leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) por pacientes infectados pelo novo coronavírus se aproxima do colapso em estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará e Amazonas. Junto com Pernambuco, esses quatro estados têm os mais altos números de casos confirmados e de mortes pela Covid-19 no país, de acordo com números divulgados ontem pelo Ministério da Saúde. São cerca de 26,7 mil pessoas infectadas e dois mil óbitos. Mais da metade das mortes ocorreu em território paulista.

Na cidade do Rio, os leitos de UTI disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) chegaram a 94% da ocupação ontem, quando havia 951 pessoas hospitalizadas em toda a rede pública, 256 delas sob cuidados intensivos — a oferta é de 270 vagas. No estado, considerados todos os tipos de atendimentos, a ocupação dos leitos de enfermaria era de 60% e a da UTI, 74%.

Diante da proximidade da lotação, a prefeitura do Rio e o governo estadual correm contra o tempo para entregar hospitais de campanha. Ontem, foram concluídas as obras do espaço no Riocento, na Zona Oeste, que terá 500 leitos.

Na rede estadual, a maior lotação está atualmente no Instituto Estadual do Cérebro, com 90,9% de ocupação das UTIs. Em seguida, vem o Hospital Universitário Pedro Ernesto, com 66,6% das vagas em UTI com pacientes.

Em São Paulo, onde a marca de mil mortes foi ultrapassada ontem, há cinco hospitais com alta lotação nas UTIs. O Instituto de Infectologia Emílio Ribas, na capital, tem 100% desses leitos ocupados por pessoas acometidas pelo vírus. A situação chegou a esse patamar na semana passada e continuava assim até ontem, conforme a instituição informou ao GLOBO. A ocupação atual dos leitos da enfermaria é de 96%.

O Hospital das Clínicas, também na capital paulista, está com 90% dos leitos de UTI ocupados, todos eles com pacientes com Covid-19. São 181 doentes para 200 leitos. A ocupação cresceu desde sexta-feira, quando o indíce era de lotação era de 84%. Os leitos de enfermaria, no entanto, tiveram um alívio: a taxa de ocupação registrada na sextafeira (50%) caiu consideravelmente ontem (21%).

O Emílio Ribas e o Hospital das Clínicas são dois dos três hospitais mais ocupados por pacientes com Covid-19 na rede pública paulista. Completa a lista o Hospital Estadual Mário Covas, de Santo André, na Grande São Paulo, que tinha ocupação de 89% na UTI e de 56% na enfermaria na sexta-feira. Procurada pela reportagem, a instituição não respondeu sobre o patamar atual.

FILAS NO CEARÁ

Com o sistema de atendimento no limite, o Ceará está contabilizando uma lista de pacientes graves que aguardam vaga em UTI. Até sexta feira, havia 38 pessoas nessa condição. No Hospital Leonardo da Vinci, em Fortaleza, somente duas das 28 vagas em UTI estavam disponíveis ontem à noite, de acordo com dados do IntegraSus.

O esgotamento já é realidade no Hospital Batista Memorial, que é privado mas teve a gestão assumida pelo governo estadual e está atendendo via SUS. Ontem, os sete leitos de UTI do local estavam lotados e já havia pacientes à espera de atendimento.

— A lotação ocorreu em tempo recorde — afirmou um dos coordenadores da unidade, que pediu para não ser identificado.

No Amazonas, o governo do estado informou na última quinta-feira que quase 90% do total de leitos estavam ocupados e admitiu que a Saúde do estado já apresenta insuficiência frente à Covid-19.

No sábado, o Hospital de Retaguarda da Nilton Lins, em Manaus, foi aberto e passou a funcionar como unidade de referência no estado. A unidade, no entanto, apresenta falta de equipamentos de proteção individual (EPIs), medicamentos e equipamentos para estruturação de leitos de UTI, conforme constatou uma inspeção do Ministério Público do Amazonas.