Título: Pressão para cima de Aécio
Autor: Almeida, Baptista Chagas de; Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 04/12/2012, Política, p. 2

Encontro entre prefeitos eleitos e caciques do PSDB se torna ato públicoemdefesa da candidatura do senador mineiro para a disputa presidencial de 2014. O parlamentar pede calma, mas promete dar sua "contribuição"

Tudo começou como uma brincadeira. Presidente do Instituto Teotônio Vilela (ITV), o ex-senador Tasso Jereissati (CE), mestre de cerimônias do encontro dos caciques tucanos com os prefeitos eleitos do PSDB, ontem, em Brasília, abriu os trabalhos dizendo que o senador Aécio Neves (MG) "não é candidato a presidente da República, não é candidato a presidente do partido". Era a senha que outros líderes da legenda precisavam para pressionar o presidenciável mineiro.

Não foi mera coincidência. Além de Tasso, falaram o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), que não despistou e muito menos economizou nas palavras: "O senador Aécio é o candidato da grande maioria do PSDB. Ele deve ser o presidente do partido, é o chefe de que precisamos e o líder que desejamos. Não estamos diminuindo ninguém, mas Aécio é o candidato que o PSDB tem para presidente da República".

Em seguida, foi a vez das opiniões do presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, do alto de sua experiência no comando do Palácio do Planalto por dois mandatos. "Aécio tem que mostrar disposição para percorrer o país, deixar claro que é nosso candidato a presidente", discursou FHC, que já havia defendido, 15 dias atrás, que o mineiro assumisse também a presidência nacional do partido, para ter mais visibilidade. O ex-presidente cobrou ainda uma maior participação de Aécio na agenda pública desde já. "Ele tem que começar a se posicionar e assumir suas responsabilidades, não como candidato, mas como líder político, inclusive andando pelo país e escutando o povo", afirmou.

Questionado sobre as chances de o partido vencer a presidente Dilma Rousseff— que conta com altos índices de popularidade —, Fernando Henrique disse estar animado. "Ninguém pode dizer que a eleição já está ganha, mas sou otimista e dá para ganhar dela (Dilma), sim.Tanto ela quanto o Lula só ganharamno segundo turno, mesmo com popularidade altíssima, então popularidade é uma coisa e eleição é outra", argumentou. "Popularidade cai, o importante é ter respeitabilidade, poder responder a qualquer pergunta sem temer", acrescentou.

O roteiro foi seguido à risca. Aos prefeitos eleitos que participaram do evento, falaram em nome do PSDB Tasso Jereissati, presidente do Instituto Teotônio Vilela, organizador do evento; Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB; e FHC, na qualidade de presidente de honra do partido. E os três bateram na mesma tecla.

Despiste

Aécio Neves até que tentou despistar. Chegou a alegar que não conhecia na "história de nenhum país civilizado uma pessoa que se proclama líder". Fernando Henrique, ao seu lado, não perdeu a caminhada:" Eu é que estou te proclamando". Meio sem jeito, Aécio continuou cauteloso, mas admitiu: "Cumprirei meu papel como semprecumpri,semser açodado".

E voltou a ressaltar que o partido só deve lançar candidato em 2014. Antes, é preciso apresentar propostas, programas de governo que falem de gestão: "Candidatura precisa ser mais do que lançamento de nomes, temos que pensar na agenda do país, mas darei minha contribuição".

A tentativa de Aécio de adiar a campanha não convenceu seus pares. Em maio, acaba o mandato de Sérgio Guerra na presidência do partido. Aécio deve assumir o cargo. No ano que vem e no primeiro semestre de 2014, o partido terá 40 inserções em propagandas de 20 segundos em rede nacional de televisão e programas de 10 minutos de duração. Um grupo de tucanos defende concentrar no candidato a maior parte das aparições.

O senador mineiro continuou com a tática e tentava se esquivar de qualquer compromisso. Não adiantou. Na fila para o almoço, foi tão assediado que acabou obrigado a deixar o local e resolveu fazer a refeição em casa.