Correio braziliense, n. 20787 , 21/04/2020. Brasil, p.6

 

Tech quer mais testagem

Maria Eduarda Cardim

Sarah Teófilo

21/04/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Por vídeo, novo ministro anuncia um aumento no volume de compra de testes para detectar o novo coronavírus, de 23,9 milhões para 46,2 milhões pelo Ministério da Saúde. A partir daí, disse, é que se traçará o planejamento de volta à normalidade no país

Há poucos dias à frente do Ministério da Saúde, Nelson Teich ainda não apareceu em coletivas, seja para informar a atualização de casos feita diariamente ou para detalhar novas medidas tomadas pela pasta no enfrentamento do novo coronavírus. O novo ministro, que assumiu na última sexta-feira, não esteve presente nem mesmo na coletiva diária realizada no Palácio do Planalto com os demais colegas de primeiro escalão dos governo. Ontem, somente o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, participou. As ações da Saúde foram detalhadas por meio de um vídeo, no qual Teich afirma que a saída do distanciamento social será “progressiva, estruturada e planejada”.

No vídeo enviado aos jornalistas, o ministro afirma que a previsão de compra de testes subiu de 23,9 milhões para 46,2 milhões, sendo que 24,2 milhões serão testes RT-PCR e os outros 22 milhões, testes rápidos. Sem dar muitos detalhes de como serão adquiridos, Teich afirmou que a medida ajudará no planejamento do fim do distanciamento social.

“Isso é muito importante para o nosso processo de usar os testes para melhor entender a doença, a evolução, e fazer um planejamento, um projeto, que já está sendo feito, para a revisão do distanciamento social”, afirmou.

Teich ainda explicou que os testes serão usados para que o Ministério entenda o que está acontecendo na sociedade. “Temos que deixar claro que testes em massa não significam testar a população toda. Não estamos falando em testar o país inteiro. A gente vai usá-lo de uma forma que as pessoas testadas vão refletir a população brasileira”, esclareceu.

Outra medida informada pelo ministro no vídeo foi a assinatura de um novo contrato para compra de 3,3 respiradores de uma empresa brasileira. Este é o terceiro contrato para obtenção desses equipamentos assinado com empresas nacionais. No total, a pasta fez um investimento de R$ 658,5 milhões na aquisição de 14.100 respiradores pulmonares.

“Essa combinação do diagnóstico, do tratamento e da preparação para saída do distanciamento social faz parte da estratégia da abordagem da Covid-19. Com isso, atuamos em três braços que são fundamentais: entender melhor a doença, preparar a infraestrutura para o tratamento e, com essa preparação, vamos desenhar o programa de saída progressiva, estruturada e planejada do distanciamento social”, avaliou o novo ministro.

Coletiva técnica

Uma das mudanças já notadas na gestão de Teich foi a ausência da tradicional coletiva técnica, que acontecia diariamente assim que o primeiro caso de Covid-19 no Brasil foi confirmado. Desde a última quinta-feira, quando o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta foi demitido, o encontro, que contava com a presença do secretário-executivo, João Gabbardo, e do secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, não acontece.

Questionado, o Ministério da Saúde respondeu que “informações sobre coletivas são com o Palácio do Planalto”. Apesar de não responder sobre a ausência das coletivas na sexta e na segunda, o Planalto informou que “há previsão de coletivas do Ministério da Saúde nos próximos dias” e que “os jornalistas serão avisados sobre elas oportunamente”.

A saída dos secretários escolhidos por Mandetta e outras mudanças ainda são aguardadas nos bastidores, mas não ocorreram.

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UTI's de quatro estados apresentam saturação

Maíra Nunes

21/04/2020

 

 

O cenário mais temido da pandemia do novo coronavírus começou a se apresentar no Brasil pelo Amazonas, primeiro estado a ver o sistema de saúde entrar em colapso pela falta de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) devido ao aumento de pacientes com a Covid-19. Na semana passada, foi a vez de o Ceará encarar essa dura realidade. E, ontem, Pernambuco e Pará passaram a ter de lidar com hospitais superlotados e escassez de equipes médicas.

Das 902 paraenses que testaram positivo no estado, a maioria é de Belém, que tem 655 casos confirmados. Também é na capital onde se concentra a maioria das mortes causadas pela doença: 27 das 35 registradas. Ontem, todos os 125 leitos de UTIs da rede municipal de Belém estavam ocupados. Dos internados em estado grave, 80% são de pessoas com suspeita ou confirmação da Covid-19.

Em Belém, o colapso do sistema não exclui a rede particular, conforme já informado pelo prefeito Zenaldo Coutinho, em entrevista coletiva, ontem. Na rede pública, o aumento da demanda de moradores com sintomas de infecção pelo novo coronavírus expôs a escassez de equipes médicas nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). As quatro UPAs existentes na capital estão funcionando no limite de capacidade. Duas delas chegaram a ficar desassistidas nos últimos dias.

Zenaldo fez até um apelo aos médicos para se inscreverem nas vagas de trabalho abertas pelo sistema de saúde do município durante a pandemia. Para a desafogar, a Secretaria Municipal de Saúde informou que aguarda a liberação de leitos via regulação municipal e estadual para transferir os pacientes para hospitais de referência.

O Pará parece seguir os passos de Pernambuco, que se tornou o terceiro estado a registrar fila de espera em UTIs para casos graves da Covid-19. Os 304 leitos exclusivos para pacientes contaminados pelo novo coronavírus não foram suficientes para atender à demanda gerada. Com 76 pessoas internadas vítimas da pandemia, Pernambuco atingiu 99% da taxa de ocupação dos centros de terapia intensiva.

Pernambuco soma 356 outros internados em leitos de enfermaria. A pandemia provocou 234 mortes até o momento. Mesmo com 2.690 confirmações –– 231 só ontem ––, apenas 50% da população estão praticando o isolamento social, enquanto o ideal seria de 70%.

“É de fundamental importancia que respeitem as normas de isolamento social”, reforçou o secretario estadual de Saude, André Longo.

O Ceará continua com 100% dos leitos de UTIs para Covid-19 da rede pública ocupados, mas espera a ativação de 36 novos hoje. No Amazonas, a Secretaria Estadual de Saúde informou que, ontem, a taxa de ocupação de UTIs era de 91%, enquanto que a de ocupação na enfermaria era de 75%.