Correio braziliense, n. 20788 , 22/04/2020. Mundo, p.12

 

Trump decide suspender emissão de green cards

22/04/2020

 

 

Medida vai valer por um prazo inicial de 60 dias, anunciou o presidente, e tem como objetivo preservar postos de trabalho para cidadãos americanos prejudicados pela crise da Covid-19. Em um mês de medidas de confinamento, 22 milhões de pessoas solicitaram auxílio-desemprego

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou, ontem, o congelamento, por um período inicial de 60 dias, da emissão de green cards, os vistos de imigração que garantem a residência de estrangeiros no país. A medida, sem precedentes, visa, segundo o chefe da Casa Branca, preservar o mercado de trabalho aos cidadãos norte-americanos, severamente afetados pela pandemia do novo coronavírus.

Em outra frente de socorro aos norte-americanos, o Senado aprovou, por unanimidade, um novo plano de ajuda de quase meio trilhão de dólares para apoiar pequenas e médias empresas, ajudar hospitais e reforçar os exames. Apoiada por Trump, a iniciativa vai agora para a Câmara de Representantes.

“Vou emitir uma suspensão temporária da imigração para os Estados Unidos”, disse o líder republicano, acrescentando: “Ao fazer uma pausa, ajudaremos a colocar os americanos desempregados em primeiro lugar na fila para empregos. Seria errado substituí-los por novos trabalhadores imigrantes enviados do exterior.”

A suspensão dos novos green cards fará com que dezenas de milhares de pessoas deixem de entrar no país. No ano passado, aproximadamente 580 mil solicitações desse visto foram aprovadas. O presidente, porém, desistiu do veto temporário à entrada de trabalhadores convidados.

 O tuíte no qual Trump externou a intenção de fechar os Estados Unidos para imigração durante a crise do novo coronavírus, publicado no fim da noite de segunda-feira, pegou de surpresa a equipe do governo que trabalha na medida. Ontem, procuradores e funcionários do Departamento de Justiça passaram o dia debruçados na análise dos detalhes finais da ordem executiva para dar celeridade à medida. Ontem à noite, os técnicos ainda redigiam o texto.

 “À luz do ataque do inimigo invisível e da necessidade de proteger os empregos dos nossos grandes cidadãos americanos, eu assinarei uma ordem executiva para suspender temporariamente a imigração para os Estados Unidos!”, anunciou o chefe da Casa Branca, numa postagem feita às 22h06 de Washington (23h06 no horário de Brasília). Trump não deu quaisquer detalhes sobre a medida.

Fontes do Departamento de Justiça, ouvidas pelos jornais The Washington Post e The New York Times, confirmaram que o texto da ordem executiva estava sob revisão de advogados do Gabinete da Assessoria Jurídica. A equipe examinava os desdobramentos logísticos e legais do plano de Trump, que pretende implementá-lo o mais rápido possível.

A pauta anti-imigração de Trump é um compromisso da campanha presidencial de 2016. Candidato a um novo mandato, o republicano, pressionado pelo contágio da economia pelo novo coronavírus, vê agora o cenário para colocá-la em prática e acenar a seus eleitores.

 Os Estados Unidos são o país mais afetado pela Covid-19. Até ontem, haviam sido confirmados mais de 780 mil casos e pelo menos 42 mil mortes. As medidas de isolamento, com consequente desaceleração da produção e outras atividades, provocaram uma tragédia no mercado de trabalho. Dados divulgados na semana passada mostraram que, em um mês, 22 milhões solicitaram auxílio-desemprego.

Ineditismo

Segundo analistas, a iniciativa prometida por Trump não tem  precedentes na história dos EUA. Não houve nada parecido sequer durante a gripe espanhola, em 1918, quando mais de 110 mil imigrantes entraram no país. Estaria, de qualquer forma, amparada por uma decisão da Suprema Corte, que, em 2018, reconheceu a autoridade do chefe da Casa Branca para restringir a entrada no território norte-americano.

Em meio às informações divulgadas pela mídia dos Estados Unidos, ontem, multiplicavam-se as dúvidas sobre os expedientes a que Trump poderia recorrer para pôr em prática sua decisão, e se haveria exceções à regra. No Congresso, por exemplo, já era considerada remota a possibilidade de que o veto afetasse trabalhadores rurais.

Desde meados do mês passado, foi suspensa a maior parte das consultas rotineiras de imigrantes e não imigrantes, encerrando quase todos os novos tipos de viagens aos Estados Unidos. Os processos de refugiados também estão parados. E a fronteira com o México está praticamente fechada — só não para trânsito essencial — desde o dia 20 do mês passado.

 Em 2019, o Departamento de Estado emitiu aproximadamente 460 mil vistos de imigração, contra 617 mil no último ano do governo de Barack Obama. Uma redução de aproximadamente 25%.