Título: Segundo CNI, 2012 será ano perdido
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 04/12/2012, Economia, p. 11

Entidade vê retração neste ano e, em 2013, dois cenários, com crescimento de 3% e 4%

A indústria brasileira viveu um “ano perdido” em 2012. A expressão é normalmente usada para medir períodos de baixo ou nenhum crescimento econômico, o que, para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), é a melhor definição para explicar o baixo desempenho do Brasil e do setor produtivo no segundo ano do governo Dilma Rousseff.

A avaliação consta de um estudo divulgado ontem pela entidade. No documento, além de críticas à política econômica, há uma série de projeções para os principais indicadores macroeconômicos. Todos foram revisados para baixo após a divulgação, na última sexta-feira, do baixíssimo crescimento de 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma da produção do país em determinado período) na passagem do segundo para o terceiro trimestre do ano.

Antes previsto em 1,5%, o desempenho da economia brasileira deverá ser, na visão da CNI, de 0,9%. Já no caso do PIB industrial, para o qual era prevista anteriormente estabilidade, agora a projeção em queda de 0,6%. Pior resultado terá a indústria de transformação, que é o principal motor do setor produtivo brasileiro. A CNI estima em 2% a queda na produtividade desse setor em 2012.

Para o ano que vem, a entidade está ligeiramente mais otimista. Mesmo assim optou por divulgar dois cenários distintos para o desempenho da economia em 2013, algo que não fazia havia pelo menos 10 anos.

Na primeira situação, tida como otimista, a CNI projeta que o PIB crescerá 4% no ano que vem. Para isso, ressalta o presidente da entidade, Robson Braga de Andrade, é importante que as medidas de estímulo já adotadas pelo governo comecem a surtir efeito para melhorar a competitividade. No cenário descrito pela CNI como “alternativo”, em que as medidas do governo surtiriam efeitos apenas parciais, esse crescimento previsto é bem mais moderado, de apenas 3%.

Efeito do câmbio A CNI considera que o dólar tem papel fundamental para devolver a competitividade da indústria. Por isso, diz a entidade, é importante que a moeda norte-americana continue não apenas em patamar mais elevado do que no passado, mas mantenha a trajetória de alta frente ao real. “Quando o dólar estava em R$ 1,60, a gente achava que tinha que ir para R$ 2. Agora que chegou até acima disso, a gente pensa que tem que ir a R$ 2,40”, disse ontem Robson Andrade. O valor que as importações retiram da produção nacional, portanto do PIB, é chamado “vazamento externo”.

» Importados prejudicam indústria

Enquanto os olhos do mercado estão voltados para o câmbio, a indústria contabiliza prejuízos causados pela maior cotação do real frente o dólar. Com a desvantagem cambial, cada vez mais o mercado doméstico brasileiro passou a ser atendido por produtos importados. Em 2006, essa conta ficou positiva em US$ 5 bilhões. Cinco anos depois, em 2011, essa posição se inverteu, e o deficit de manufaturados atingiu US$ 96 bilhões. Neste ano, mesmo com todas as intervenções do BC para segurar a alta do dólar, essa conta deverá superar os US$ 100 bilhões, conforme projeção da CNI.