Correio braziliense, n. 20789 , 23/04/2020. Brasil, p.7

 

Retomada só em 11 de maio

Maria Eduarda Cardim

Maíra Nunes

23/04/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Doria anuncia plano de retorno das atividades, que privilegiará inicialmente os setores com maior vulnerabilidade econômica e menor risco para a saúde. Mas enfatizou que não representará a suspensão da quarentena. Outros estados estudam fazer o mesmo

O governador João Doria, de São Paulo, anunciou ontem o plano de retorno às atividades econômicas, que começa a partir de 11 de maio. Inicialmente, a abertura será voltada para os setores que têm maior vulnerabilidade econômica, porém de menor risco para a saúde. Apesar de detalhar o programa, ele não disse quais são as áreas que retomarão as atividades primeiramente.

“Detalhes só serão anunciados no dia 8 de maio, se todas as circunstâncias permitirem”, explicou Doria, na 32ª coletiva de imprensa feita no Palácio dos Bandeirantes sobre a crise do novo coronavírus.

O governador informou que as situações locais e regionais serão levadas em conta para o recomeço das atividades. Entre os critérios que serão analisados estão a ocupação diária de leitos nos hospitais, capacidade de testagem de casos do novo coronavírus e o avanço da infecção. Atualmente, a taxa de ocupação de leitos de UTI para a Covid-19 no estado é de 53,3%. A ocupação de vagas de enfermaria no estado é menor e chega a 40,5% –– a taxa soma os leitos de hospitais públicos e privados.

Doria afirmou que, até 10 de maio, não haverá nenhuma alteração da quarentena de São Paulo. A retomada não significa, no entanto, a decretação do fim do isolamento. “Não estamos anunciando que no dia 11 de maio não teremos mais nenhuma quarentena. Teremos o plano que vai estabelecer áreas e setores que poderão retomar as atividades e outros não. Um plano flexível, amparado na ciência, na medicina, nas questões regionais e também na economia”, avisou.

Ao citar serviços que continuaram a funcionar durante a quarentena, Doria assegurou que 74% da economia de São Paulo permaneceram ativas durante o período. No entanto, ressaltou que a economia não se sobrepõe às recomendações médicas. “Em uma pandemia como essa, quem determina nossos passos são a saúde e a ciência”, reforçou.

As palavras de Doria são alfinetadas na Federação das Associações Comerciais do Estado São Paulo (Facesp) e na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que divulgaram comunicado em que pedem para que o comércio seja parcialmente reaberto a partir do dia 1º de maio. As instituições dizem que em uma suposta volta, seriam respeitadas regras de segurança. Afirmam ainda que a paralisação do varejo significa a não circulação de R$ 1 bilhão por dia.

Sinais

Outros estados com números também preocupantes de infecção da Covid-19 dão sinais de que seguirão a linha adotada por São Paulo. Tal como o Rio de Janeiro, que já tem hospitais no limite de ocupação e pacientes precisando ser transferidos para cidades do interior do estado. Mesmo com 78% de ocupação dos leitos de UTIs da rede estadual, o governador Wilson Witzel cogita flexibilizar a quarentena a partir de 1º de maio. Apesar de estar em fase de análise, a nova medida deverá trazer a reabertura do comércio, incluindo o da capital, além da volta da circulação de ônibus intermunicipais e dos cultos religiosos.

Entre os cinco estados com mais casos, até aqueles que já sofrem com o colapso do sistema de saúde começam a debater planos para o retorno das atividades de comércio, serviços e demais atividades, mesmo sem previsão para colocá-los em prática. No Ceará, antes da superlotação das UTIs, o governador Camilo Santana chegou a anunciar uma flexibilização da quarentena no início do mês. Depois recuou. Agora, assegura que a comissão criada para tratar da reabertura será pautada pelas orientações da área da saúde do estado.

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Saúde do AM pode sofrer intervenção

23/04/2020

 

 

A saúde do estado do Amazonas pode sofrer intervenção federal nos próximos dias, devido ao caos no setor em função da disparada de casos da Covid-19. Requerimento nesse sentido foi aprovado em sessão virtual, segunda-feira, pela Assembleia Legislativa e, ontem, o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), entregou o pedido ao presidente Jair Bolsonaro. O estado tem 2.479 casos confirmados da doença e 207 mortes, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde.

Porém, é preciso que o governador Wilson Lima formalize o pedido de intervenção, pois é o único que pode fazer a solicitação. O ministro da Secretaria do Governo, Luiz Eduardo Ramos, disse que conduziria o assunto. “O Amazonas, em especial Manaus, tem vivido momentos dramáticos. O presidente ficou de orientar seus ministros a conversar com o governo do Amazonas para medidas emergenciais mais concretas. Não temos condição de sair do isolamento”, explicou Braga, depois do encontro que teve com Bolsonaro, junto com o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP).

O colapso no sistema de saúde do Amazonas desembocou na explosão no número de sepultamentos. O cemitério Nossa Senhora Aparecida, o maior de Manaus, teve que abrir valas comuns para conseguir enterrar as vítimas do novo coronavírus. No estado, chega a 2.479 casos registrados da Covid-19. O número de internados com a doença é de 190 — sendo 109 em UTIs. Outras 708 estão sendo atendidos na rede hospitalar com suspeita de estarem infectados.

MA, RJ e SP

No Maranhão, apesar de estar em situação melhor em comparação a outras unidades da Federação, o governador Flávio Dino se prepara para o pior. “Tenho um decreto pronto de lockdown (fechamento total de atividades) se a ocupação de leitos de UTI chegar a 80%”, disse, referindo-se à medida radical prevista para ser tomada na região metropolitana de São Luís.

O governo de São Paulo atualizou, ontem, a situação da rede de saúde da capital e do estado. O secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann, afirmou que 74% dos leitos na Grande São Paulo estão ocupados, mas que essa ociosidade é maior no interior –– o índice é de 53% de ocupação. Já as vagas de enfermagem têm taxa de 63% de preenchimento.

No Rio de Janeiro, os hospitais têm dificuldades para realizar novas internações. Dezenas de pacientes estão sendo transferidos diariamente para unidades do interior –– algumas a mais de cem quilômetros da capital. A ocupação das UTIs disponíveis beira os 80%. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou, ontem, que a taxa de ocupação na rede estadual é de 66% em leitos de enfermaria e 78% nos de UTI.