Correio braziliense, n. 20789 , 23/04/2020. Cidades, p.17

 

Horas de espera no drive-thru

Cibele Moreira

23/04/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Moradores de Águas Claras enfrentaram longa fila para fazer o exame que detecta o novo coronavírus. No segundo dia de testes, 3.359 pessoas passaram por avaliação nos oitos postos do DF. Apenas quem apresentou febre e sintomas de gripe foi atendido

O segundo dia de testagem em massa para detectar a presença do novo coronavírus levou 3.359 pessoas aos oito pontos de exames por drive-thru. Em Águas Claras, uma longa fila de veículos se formou logo nas primeiras horas de ontem. No posto de atendimento no Centro Universitário Unieuro, os carros começaram a se concentrar às 6h na pista. Os testes iniciaram às 8h. Quarenta e uma pessoas testaram positivo, sendo que 31 foram identificados nos postos de Águas Claras e 10, nas estruturas do Plano Piloto. Somente pessoas com sintomas de gripe e com febre podem fazer os testes.

O arquivista Fernando Gomes, 34 anos, chegou à Unieuro por volta das 7h10. No momento, havia cerca de 50 carros na frente dele, que esperou duas horas para ser atendido. “Minha maior motivação para fazer o teste é porque estou espirrando e tossindo bastante. Fiquei apreensivo, e resolvi tirar a prova para saber se era Covid-19. Mas deu negativo”, conta aliviado. Ele foi acompanhado da esposa que também testou negativo.

Para Fernando, a melhor forma de lidar com esta pandemia é seguir as recomendações dos órgãos de saúde. “O melhor é ficar em casa, sair só se for necessário e com o uso de máscaras. Sempre higienizar as mãos com água e sabão, além de fazer o uso do álcool em gel”, ressalta. O arquivista está em isolamento com a esposa desde 11 de março.

Com febre, a estudante Karen Ariane Arruda, 31, resolveu fazer o teste para o novo coronavírus na manhã de ontem. Acompanhada do marido Renato Arruda, 31, ela recebeu o diagnóstico negativo para Covid-19. Os dois estavam preocupados com relação aos sintomas, principalmente pela quantidade de casos em Águas Claras. “Nos últimos 15 dias, a gente percebeu que as pessoas perderam o medo de sair nas ruas. E não é o momento para isso, agora com os testes rápido acredito que a população perceba a gravidade da situação”, pontua o advogado.

A professora Larissa Alves, 23, comenta que notou um aumento no movimento da cidade nas últimas duas semanas. “Mesmo neste período de quarentena, a quantidade de carros e pessoas na rua continua grande”, lamenta. Larissa também fez o exame para Covid-19. Com sintomas de resfriado e febre, ela resolveu fazer o teste como medida de precaução, pois os pais e a irmã são do grupo de risco.

O tempo de espera no posto de atendimento na Unieuro foi de duas horas. No entanto, o que mais a incomodou foi a falta de informação e organização. “Eles deveriam ter avisado para a gente levar uma caneta de casa, porque é necessário preencher uma ficha”, explica. “Com isso, passei por um constrangimento desnecessário, porque pegaram uma caneta em outro veículo para me dar. Após o cadastro, precisei insistir para disponibilizarem álcool em gel”, relata. Apesar das críticas, Larissa aprova a iniciativa dos testes rápido.

Águas Claras concentra cerca de 92 casos de Covid-19. Os dados são do último boletim divulgado, ontem. O Plano Piloto registra a maior quantidade de pessoas com o novo coronavírus, 200 diagnosticadas. A região administrativa conta com postos de testagem em massa no Estádio Mané Garrincha e nos estacionamentos 4, 6, 11 e 13 do Parque da Cidade.

Testes

 Os testes para Covid-19, por ora, são realizados apenas em pessoas com sintomas de gripe e febre. De acordo com a Secretaria de Saúde, é importante a população se atentar à duração dos sintomas. Para se ter um resultado mais efetivo, é preciso estar, no mínimo, há sete dias com febre ou tosse. Os atendimentos são feitos por ordem de chegada e dentro do veículo, ficando proibido que os pacientes desçam do carro sem orientação da equipe médica. A recomendação da pasta é de que todos saiam das residências com máscara e que os carros tenham, no máximo, quatro pessoas.

No início do atendimento é solicitado o preenchimento de um cadastro com os dados pessoais de cada um. É necessário ter em mãos o comprovante de residência e um documento de identificação. Depois, é feita uma triagem a partir da medição de temperatura corporal, realizada com uma câmera térmica manuseada por militares do Corpo de Bombeiros. Caso alguém não se enquadre nos sintomas do coronavírus, não poderá fazer o teste.

A testagem é feita por amostra de sangue do paciente, em que é possível identificar a presença de anticorpos contra o novo coronavírus. O resultado sai, em média, em 30 minutos. A expectativa do governo do Distrito Federal é de testar 450 mil pessoas até o fim de maio.

 Testagem em massa

De segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Atendimento por drive-thru por ordem de chegada.

Locais:

» Estádio Mané Garrincha

» Estacionamentos 4, 6, 11 e 13 do Parque da Cidade

» Centro Universitário Unieuro, em Águas Claras

» Centro Universitário Uniplan, em Águas Claras

» Residência Oficial de Águas Claras

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Hotelaria solidária recebe os primeiros hóspedes

Juliana Andrade

23/04/2020

 

 

O Brasília Palace Hotel recebeu, ontem, os primeiros idosos selecionados pelo programa Sua Vida Vale Muito — Hotelaria Solidária. Ao todo, 100 beneficiários foram hospedados no primeiro dia de recepção. A previsão é de que até a próxima sexta-feira, mais 200 moradores da capital façam o check-in. A iniciativa, coordenada pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) em parceria com o hotel, tem o objetivo de oferecer um lar temporário para pessoas com 60 anos ou mais, de baixa renda, que vivam em condições inadequadas para o isolamento social e prevenção à Covid-19.

O programa é voltado para idosos como a aposentada Maria das Dores Oliveira, 67 anos. Ela mora com o filho no Jardim Mangueiral, e a rotina do emprego dele preocupava a família e colocava em risco a saúde da mãe. "Ele trabalha no sistema socioeducativo e tem contato com muitas pessoas. Além da idade, eu tenho diabete, problema no coração e pressão alta. A situação o deixava (filho) muito preocupado", conta. Agora, o contato com a família será por telefone. "Vou sentir falta dele e da casa, mas é por uma boa causa. Agora estamos mais tranquilos", destaca.

Para evitar aglomeração na recepção do hotel, esses novos hóspedes chegam aos poucos. São dois grupos de 50 beneficiários por dia. Luziney Cavaignac, 68, veio com a filha, a estudante Maria Luiza Cavaignac, 20. A escolha de entrar no programa partiu do idoso "Eu achei melhor ficar aqui isolado. Minha filha, às vezes, precisa sair e era um grande risco", conta. Maria apoiou a decisão do pai. "Eu estou mais tranquila. Meu pai é fumante, e eu ficava receosa. Lá, eu sei que ele está seguro”, ressalta.

Seu Luziney está dividindo o quarto com outro idoso. Ele afirma que gostou da recepção e da hospedagem. O intuito é ficar no hotel até se sentir seguro. "Quero ficar aqui até esse pico do coronavírus acabar, para ir para casa e tudo voltar ao normal”, diz. Os idosos poderão permanecer no estabelecimento por até três meses, podendo solicitar o desligamento a qualquer momento, caso achem necessário, e terão oficinas ao ar livre. Ao todo, 150 quartos foram reservados para atender à primeira fase do programa. Antes de fazer o check-in, eles passaram por um teste rápido de coronavírus. O procedimento vai ser repetido na próxima semana, seguindo os protocolos de segurança.

Os idosos terão uma programação para seguir durante a hospedagem, que incluem oficinas e momentos de lazer, como confecção de máscaras e meditação. As atividades serão realizadas em pequenos grupos, com horários definidos pela Sejus. Por segurança, o uso da piscina está vedado. Os hóspedes têm direito a café da manhã, almoço, lanche, jantar e ceia, além de água e chás à disposição. As refeições ocorrem no restaurante, também com horários definidos e divididos em grupos.

Parceria

O hotel está fechado exclusivamente para receber os idosos. A hospedagem é bancada parcialmente pelo Governo do Distrito Federal (GDF), que assume 20% do valor, além do apoio logístico, emocional e o fornecimento de assistência médica. O restante dos custos é arcado pelo hotel. Os funcionários também terão monitoramento médico. A ideia é ampliar o programa com um chamamento público para outras empresas do setor aderirem à iniciativa. “Podem participar os hotéis que estejam prontos para abrigar, exclusivamente, esses idosos, ou seja, não podem ter outros hóspedes no local. Também deverão seguir os protocolos de saúde e segurança definidos pelo governo”, explica a secretária de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani.

O DF tem cerca de 14 mil idosos em condições de moradia inadequada, segundo a pasta, e há mais de 500 deles inscritos no programa. As inscrições continuam e podem ser feitas pelo site: suavidavalemuito.sejus.df.gov.br. Para mais informações: 3213 0742 / 3213 0764 / 99126 9102 (Whatsapp).

Quem pode se beneficiar

» Ter 60 anos ou mais

» Morar no DF

» Morar em domicílio onde não seja possível o isolamento e/ou que esteja compartilhando moradia com pessoas infectadas ou suspeitas de infecção e impossibilitado de se manter em isolamento social

» Ser pessoa de baixa renda

» Ter capacidade de autocuidado e autonomia para locomoção

» Não apresentar febre ou sintomas respiratórios compatíveis com a Covid