Correio braziliense, n. 20790 , 24/04/2020. Cidades, p.15

 

Comércio propõe protocolo para reabrir

Jéssica Eufrásio

Walder Galvão

24/04/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Em reunião com o governador Ibaneis Rocha (MDB), representantes do setor produtivo encaminharam sugestões para a retomada das atividades econômicas. Para especialistas, planejamento é bem-vindo, mas momento ainda é questionável

Em um momento em que o país ainda lida com as consequências da pandemia provocada pelo novo coronavírus, chefes de Executivo estaduais têm estudado meios de retomar as atividades econômicas. No Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha (MDB) liberou o funcionamento de alguns serviços e, agora, avalia reabrir mais uma parte do comércio. Ontem, representantes do setor produtivo se reuniram com Ibaneis para propor sugestões e protocolos capazes de guiar esse processo.

O Plano de Reabertura, elaborado por sete entidades, inclui orientações para o trabalho de ambulantes, além do funcionamento de estabelecimentos do varejo, shoppings, estúdios de treinamento e centros de estética (veja Protocolo). Apesar da pressão dos segmentos de bares e restaurantes, Ibaneis não pretende liberar esses comércios, por enquanto. Também não está confirmada a reabertura de salões de beleza nem de grandes academias.

Um dos compromissos firmados ontem prevê que, caso haja aumento do número de casos da Covid-19, os estabelecimentos poderão fechar novamente. O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio/DF), Francisco Maia, afirmou que a entidade ouviu sindicatos de diversas áreas para definir as sugestões que seriam encaminhadas ao Palácio do Buriti. “Não temos como obrigar pessoas a seguirem todas as recomendações, e o governo não tem estrutura para fiscalizar. Então, (o cumprimento das orientações) vai depender da consciência dos dois lados”, cobrou Maia.

Prudência

Proprietário de um bar no Guará 2, Pedro Henrique Mendes, 28 anos, disse que se sente inseguro em meio às mudanças. Com o estabelecimento aberto só para entregas, o empresário comentou que percebeu queda nos lucros. No entanto, ele se preocupa com a possibilidade de mais pessoas em circulação. “Pretendo (que o bar reabra em breve), mas tem a questão do medo de se expor a uma doença. E acho que não ficaremos no mesmo patamar. A sociedade está com a sensação de que não pode voltar aos estabelecimentos com a mesma segurança de antes”, contou Pedro Henrique.

Para o professor de finanças do Ibmec Brasília William Baghdassarian, apesar de a flexibilização ser planejada, é preciso avaliar se o período é ideal para a retomada das atividades. “Quando entramos nesse modelo de isolamento social, sabíamos que, em algum momento, teríamos de sair dele. Do ponto de vista econômico, a forma de voltar tem sido prudente e planejada. Mas há estudos que mostram o isolamento como a solução mais adequada pelo viés econômico. Portanto, a questão que fica é: esta é a hora de voltar?”, argumentou William.

Avaliações

Ontem, o secretário de Saúde, Francisco Araújo Filho, informou que a pasta tem feito estudos e avaliado com outros órgãos do governo os impactos da reabertura do comércio. “Fazemos isso para que, quando a decisão for tomada pelo governador, todo mundo tenha proteção e segurança, não apenas a população, mas todas as áreas do governo”, ressaltou.

Questionado sobre a retomada das atividades comerciais na capital federal, o subsecretário de Vigilância à Saúde, Eduardo Hage, explicou que o cenário é o mesmo que a pasta aponta desde o início da pandemia: com crescimento de casos em ritmo “não tão acelerado”. “Não há nenhuma situação de maior agravamento ou dado que aumente a preocupação. Nada fora do que era esperado há algum tempo”, comentou Eduardo.

Médico dos hospitais de Base e das Forças Armadas (HFA), Hemerson Luz considera que a subnotificação dos casos está abaixo do que se acreditava. Especialista em operações humanitárias e desastres no Brasil e no exterior, ele acredita que essa situação deve ter dado segurança ao Executivo local. “A curva está controlada e abaixo do crescimento exponencial. Isso deve ter influenciado o governador a tomar essa medida”, opinou.

No entanto, mesmo com ligeira segurança em relação ao número de leitos disponíveis e dos diagnósticos diários da Covid-19, Hemerson não descarta que a reabertura de lojas seja um risco. “Não sabemos o que vai acontecer, mas é o momento para se discutir e tomar uma decisão”, alertou. O médico avalia que os impactos da retomada das atividades só serão vistos depois de, aproximadamente, duas semanas — período que a doença demora para se manifestar a partir do contágio.

Na avaliação de Hemerson, o DF lida bem com a pandemia, mas o cenário ainda é frágil. Ele reforça que a população não deve correr às compras e seguir as recomendações dos órgãos de saúde. “Mesmo se o uso da máscara for obrigatório, ela não substitui a quarentena. É preciso continuar com os cuidados, como lavar as mãos e manter o distanciamento. Os próprios gestores das lojas vão precisar ter atenção a isso”, completou.

Propostas

Veja as diretrizes sugeridas pela Fecomércio/DF e válidas para todos os setores, essenciais ou não, alvo de medidas restritivas ou não:

» Usar máscaras

» Manter distanciamento de 1,5m dos demais

» Limpar e desinfectar ambientes a cada duas horas

» Monitorar a saúde dos funcionários, com aferição de temperatura e testagens rápidas

» Intercalar e alternar horários de atendimento em até três turnos e com horários de entrada e saída diferentes, para não sobrecarregar o sistema de transporte público

» Realizar reuniões prioritariamente por videoconferência

» Divulgar instruções para prestadores de serviços e usuários ou clientes sobre as normas de proteção vigentes

» No trabalho, funcionários que dependerem de transporte coletivo não poderão vestir a mesma roupa usada durante o deslocamento

» Priorizar o afastamento, sem prejuízo salarial, de empregados com mais de 60 anos, com doenças crônicas, de gestantes, entre outros

» Personal trainers e estúdios pequenos

» Ocupação simultânea de um cliente a cada 4 metros quadrados nas áreas de treino

» Capacitar todos os colaboradores em como orientar clientes sobre as medidas de prevenção do estúdio

» Posicionar kits de limpeza em pontos estratégicos

» Organizar turnos para limpeza

» Comunicar para os clientes levarem toalhas para uso próprio

» Disponibilizar álcool em gel ao lado das catracas de acesso

» Fechar cada área de treino no intervalo de um cliente para o outro, para limpeza e desinfecção

» Shoppings

» Obrigatório uso de máscaras por clientes e funcionários

» Controle de acesso nos horários de grande fluxo

» Organizar turnos especificamente para a limpeza

» Higienizar todas as áreas

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DF tem mil casos e 26 mortes

Sarah Peres

Walder Galvão

24/04/2020

 

 

O Distrito Federal registrou mais uma morte por coronavírus. Ontem, a Secretaria de Saúde detalhou que um idoso de 85 anos faleceu em casa, na Estrutural. A vítima não tinha comorbidades e morreu na quarta-feira. Agora, a capital soma 26 óbitos provocados pela Covid-19 e 1.085 casos confirmados. Do total de diagnosticados, 59 seguem hospitalizados, sendo 30 em unidades de terapia intensiva (UTIs).

No total, segundo o centro de monitoramento do GDF, 547 pacientes são considerados recuperados, ou seja, 50,41% do total. Com 201 casos, o Plano Piloto lidera o ranking das regiões administrativas com maior incidência da doença. Em seguida, aparecem Águas Claras (93) e Lago Sul (66). Até o momento, apenas duas cidades do DF não têm registros de coronavírus: Fercal e Varjão do Torto.

Testagem

Desde de terça-feira, o Distrito Federal iniciou a testagem em massa da população. Cerca de 10 mil pessoas passaram pelo exame, realizado no modelo drive-thru, em Águas Claras e Plano Piloto, regiões com maior incidência da Covid-19. Entretanto, ontem, a pasta informou que 20 diagnosticados com coronavírus vão passar novamente pela avaliação, pois houve um problema de leitura nos dispositivos. Segundo a Secretaria de Saúde, oito resultados estavam equivocados e deram negativo.

Dos testes que apresentaram problemas, quatro são de servidores do Corpo de Bombeiros. Em nota oficial, a corporação informou que os militares passaram por nova avaliação, que não detectou a doença. Ontem, o secretário adjunto de Assistência à Saúde, Ricardo Tavares Mendes, defendeu que o problema é pequeno em relação ao número de testes realizados. “É preciso termos muita prudência ao falarmos disso, pois não podemos amedrontar a população. São problemas que podem ocorrer e estão prescritos nas bulas dos exames”, explicou.

A Secretaria de Saúde informou que a testagem também será feira nos estacionamentos dos shoppings Iguatemi e Park Shopping, a partir de segunda-feira.