Título: Dilma em alta, mas o PT sangra
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 15/12/2012, Política, p. 2

Enquanto a presidente está com a popularidade nas alturas e 62% das pessoas acreditam que o governo dela continuará ótimo ou bom até 2014, petistas tentam tirar a legenda do centro da crise política da Operação Porto Seguro

No mesmo dia em que a presidente Dilma Rousseff celebra 65 anos de vida (leia ao lado) e uma aprovação de 78% para seu governo — de acordo com pesquisa CNI/Ibope —, o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva veem proliferar as bombas prontas para explodir no colo. Para 62% dos pesquisados, o governo Dilma continuará ótimo ou bom até 2014, quando ela tentará a reeleição. No caso do PT, o pesadelo é a curto prazo. Depois do depoimento de Marcus Valério ao Ministério Público Federal, é a vez do ex-diretor da Agência Nacional de Águas Paulo Vieira avisar que poderá negociar delação premiada para mostrar que "não é o chefe da quadrilha" da Operação Porto Seguro. Seu irmão, Rubens Vieira, também está disposto a ir ao Senado dar sua versão para o caso. E até Rosemary Noronha está cansada de assistir calada o que dizem sobre ela.

Dilma, que não tem nada a ver com isso, surfa com o bom momento vivido pelo seu governo. O crescente descolamento em relação a seu predecessor transparece no resultado do levantamento da CNI/Ibope. Para 59% dos entrevistados, a administração atual tem apresentado resultados melhores do que o do governo Lula. O índice cresceu dois pontos percentuais desde setembro deste ano, na pesquisa anterior, quando 57% afirmavam que o governo Dilma é melhor do que o do ex-presidente petista.

Além disso, 73% dos entrevistados declararam confiar na presidente Dilma e 78% aprovam o modo de governar da presidente. Na avaliação do gerente executivo de pesquisa da CNI, Renato da Fonseca, um dos motivos da alta aprovação à administração Dilma é o fato de o governo ter conseguido se desvencilhar do recente escândalo relacionado à Operação Porto Seguro e assegurar distância em relação ao julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF).

A princípio, os dois casos não interferiram na avaliação da população, provavelmente pela ação rápida da presidente Dilma em demitir os envolvidos. Fonseca lembra que, na série de escândalos que derrubaram ministros no ano passado, o governo conseguiu se preservar e até se capitalizar politicamente por conta da reação rápida na demissão de envolvidos e na apuração dos fatos.

Defesa de Lula Apesar do fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), a economia ainda pode ser considerada como um dos fatores que ajudam a manter alta a avaliação positiva do governo Dilma, acredita Fonseca. Segundo ele, a população ainda não sentiu a desaceleração da economia, uma vez que os salários estão mantidos e o desemprego não tem apresentado crescimento. "Isso, mais a notícia da redução no valor da conta da energia elétrica, conta pontos a favor da presidente", observa.

Já para petistas e para o ex-presidente Lula, o drama é mais concreto. Eles estão irritados com o atual momento vivido pelo PT. O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), tem monitorado a presidente sobre os desdobramentos da crise. Dilma está na Europa desde o fim de semana. Na última segunda-feira, ela encontrou-se com Lula em Paris. No dia seguinte, após o vazamento de novos trechos do depoimento de Valério — desta vez afirmando que o ex-presidente chefiava o esquema e que despesas pessoais deles foram pagas com o dinheiro do mensalão —, Dilma deu uma longa declaração defendendo o ex-presidente. A defesa repetiu-se em entrevista ao jornal Le Monde.

No Brasil, contudo, a tensão prossegue. "Rosemary tem dado sinais de impaciência. Ela está chateada com a imagem que fizeram dela ao longo dessas últimas semanas", disse ao Correio um líder governista que acompanha de perto o processo de blindagem do PT e do Planalto no Congresso. De público, os petistas tentam fazer pouco caso de Rose, afirmando que ela seria alguém que se deslumbrou com o cargo que ocupava — chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo — e o tornou maior do que ele de fato era. "Eu não estou aqui para defender a Rose. Eu defendo o governo e o ex-presidente Lula", desdenhou o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP).

O ar blasé de Tatto logo após aprovar o convite ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência destoa da preocupação estampada horas antes. A ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais ligou para o líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE), avisando a ele que a reunião na comissão iria começar e só a oposição estava presente. Ele ligou para Tatto e para a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) que prontamente correram para o local. "Minha missão é colocar os meninos nas comissões. Felizmente, eles normalmente me atendem", respirou Pimentel, aliviado.

A mais recente novidade é Paulo Vieira. Sob o argumento de tentar uma delação premiada, ele desistiu de ser defendido por Pierpaolo Bottino e passou para o escritório de Michel Darre. "Durante o tempo em que permaneci ao lado dele, não acertamos nada sobre delação premiada. Mas é claro que, lendo o inquérito da Polícia Federal, ficou claro que ele não é o chefe da quadrilha", disse Bottino ao Correio.

O levantamento 62% Percentual de entrevistados que acreditam que o governo Dilma terá desempenho ótimo ou bom até 2014

73% Parcela dos entrevistados que declararam confiar na presidente Dilma

78% Índice de aprovação ao modo de governar da presidente

"Eu não estou aqui para defender a Rose. Eu defendo o governo e o ex-presidente Lula" Jilmar Tatto, líder do PT na Câmara, após aprovar o convite para ouvir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no Congresso

Aniversário em Moscou

A presidente Dilma Rousseff comemorou seus 65 anos durante a viagem oficial a Moscou. Além de tratar de parcerias entre os dois países, a presidente aproveitou a noite de quinta-feira para celebrar o aniversário no Teatro Bolshoi, assistindo ao espetáculo de balé Cisne negro, seguido de jantar com a filha e integrantes de sua comitiva, entre eles os ministros Aloizio Mercadante (Educação); Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior); e Antônio Patriota (Relações Exteriores). O jantar teve direito a parabéns, tocado pelo pianista do restaurante, e saiu por aproximadamente R$ 830, divididos igualmente pelos comensais. "Bolinho não tem, não. Bolinho engorda, gente", comentou ao chegar ao hotel. Ontem, a presidente (foto) visitou a tumba do Soldado Desconhecido, ao lado do muro do Kremlin. A presidente retorna amanhã ao Brasil (leia mais sobre a viagem oficial a Moscou na página 14).