Correio braziliense, n. 20792 , 26/04/2020. Política, p.2

 

Um ministro alinhado

Jorge Vasconcellos

26/04/2020

 

 

GOVERNO » Bolsonaro passa o sábado reunido com auxiliares para definir substituto de Moro e oficializar o novo diretor-geral da PF. Ideia é de que o escolhido seja uma pessoa de confiança do presidente e dos filhos. Ministério da Justiça e Segurança pode ser desmembrado

O presidente Jair Bolsonaro deu sequência ontem a uma série de reuniões no Palácio da Alvorada com um grupo reduzido de ministros para tentar definir o nome do substituto de Sergio Moro no comando da pasta da Justiça e Segurança Pública. O mais cotado é o atual secretário-geral da Presidência, Jorge Oliveira, mas há outros três nomes em discussão: Ivan Sartori, ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo; Carlos Eduardo Thompson Flores, ex-presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região; e André Mendonça, atual advogado-geral da União. A ideia é de o que novo titular da pasta seja “feito em casa”, alinhado com os pensamentos políticos e ideológicos do presidente e dos filhos.

Sergio Moro pediu demissão na sexta-feira, após a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, e acusou o Bolsonaro de interferir politicamente no órgão. No pronunciamento em que anunciou a saída do governo, Moro relatou tentativas frustradas do presidente para ter acesso a relatórios sigilosos de inteligência da PF. O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito para apurar as denúncias. O ministro Celso de Mello é o relator do caso e deve tomar uma decisão nesta segunda-feira.

Em meio à maior crise de seu governo, Bolsonaro recebeu, ontem, no Alvorada, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno; o secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten; e o próprio Jorge Oliveira.

Um dos principais pontos que contam para que Oliveira, um major da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal, seja o favorito para substituir Moro é a proximidade dele com a família do presidente da República. No pronunciamento em que rebateu as acusações do ex-ministro, Bolsonaro deixou claro, mais uma vez, o peso dos filhos nas suas decisões, inclusive a de tentar acesso a investigações sigilosas da PF.

Solidariedade

Pesa também a favor de Oliveira a experiência em direito e em segurança pública. Porém, desde as acusações de Moro sobre interferências do presidente nas investigações da PF, o próprio secretário-geral da Presidência tem argumentado internamente ser mais recomendável ao governo fazer uma indicação “técnica” para o ministério. A reunião de ontem no Alvorada também discutiu a possibilidade de dividir a pasta em duas, por meio da criação de uma específica para a Segurança Pública. Essa mesma ideia foi aventada anteriormente por Bolsonaro, mas ele voltou atrás após a resistência do então ministro Sergio Moro.

Após a saída de Moro, a equipe que o acompanhou no ministério e chefiava secretarias vinculadas à pasta também pediu demissão do cargo em solidariedade ao chefe, mas deve manter os trabalhos até que seja concluído o processo de transição para a nova gestão.