Título: Valério nunca citou repasse, diz advogado
Autor: Prates, Maria Clara
Fonte: Correio Braziliense, 15/12/2012, Política, p. 5

Marcelo Leonardo garante que em nenhum momento o operador do esquema afirmou ter recebido R$ 4 milhões do PT para custear sua defesa no Supremo

O advogado Marcelo Leonardo disse ontem que em nenhum depoimento, durante a fase de inquérito sobre o escândalo do mensalão ou à Justiça, o empresário Marcos Valério afirmou que o PT pagou sua defesa com R$ 4 milhões repassados pelo esquema. Leonardo se recusou a confirmar a existência do depoimento que teria sido prestado pelo empresário em 24 de setembro à Procuradoria Geral da República (PGR), em Brasília, em que a transação teria sido citada. "Nos inúmeros depoimentos que ele prestou, meu cliente jamais disse que o PT pagou R$ 4 milhões para custear sua defesa", assegurou o advogado de Valério, condenado a mais de 40 anos de prisão por operar o pagamento de propinas a deputados em troca de apoio ao governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No depoimento, Valério teria afirmado que o ex-presidente deu o aval para a tomada de empréstimos do PT para a compra de voto de parlamentares em matérias de interesse do governo e que parte dos recursos foi destinada ao pagamento de contas de Lula. Os depósitos, entretanto, teriam sido feitos em nome de terceiros. "Preservo o sigilo profissional e não vou comentar um depoimento que vazou ilicitamente", finalizou.

Por sua vez, Luiz Cláudio Chaves, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), Seção Minas Gerais, confirmou a existência das declarações do empresário feitas em setembro, em que consta apenas a afirmação de que R$ 4 milhões do PT foram repassados a Valério para pagamento de "despesas do processo". Chaves defendeu que a PGR instaure um procedimento para ouvir o operador do mensalão novamente. "É preciso que ele explique das mãos de quem recebeu o recurso e como o dinheiro foi repassado, já que esse valor é bastante elevado para o pagamento de despesas processuais. O doutor Marcelo Leonardo me garantiu que esse valor nunca foi repassado a seu escritório", afirmou.

Para Chaves, o depoimento trata da questão muito "genericamente" e é preciso colher mais detalhes. O presidente da entidade descartou ainda a possibilidade de abertura de investigação para apurar o fato, a não ser que sejam apresentas provas de que o repasse tenha beneficiado o escritório de Leonardo. Apesar disso, ele defende um aprofundamento das apurações sobre o novo depoimento do empresário.

Acusação Desde a divulgação do depoimento de Marcos Valério à PGR, está em questão a apresentação de provas que sustentem as novas acusações feitas pelo empresário depois da condenação no STF. Durante o inquérito policial, presidido pelo delegado Luiz Flávio Zampronha, foi identificado o depósito de R$ 98 mil na conta da empresa Caso, de Freud Godoy, então assessor do presidente da República . Em depoimento à PF, assim como na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, Godoy confirmou que os recursos foram usados para o pagamento de despesas de Lula, logo após sua eleição.