Título: Ainda uma promessa
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 15/12/2012, Economia, p. 12

Indicador do Banco Central aponta para crescimento de 0,36% em outubro, mas sinais de fraqueza da economia persistem

Depois de um terceiro trimestre decepcionante, o Brasil voltou a crescer em ritmo mais forte em outubro. De acordo com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), um indicador que tenta antecipar o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB), o país registrou avanço de 0,36% no mês retrasado. Esse desempenho positivo, porém, não deve ter se repetido em novembro e, nem mesmo as garantias do presidente do BC, Alexandre Tombini, de que a atividade iria girar a um ritmo anual de 4% neste fim de ano, parecem ser suficientes para dar ânimo à economia. A projeção para o penúltimo mês do ano é de retração de 3,2% no comércio, mesmo com os estímulos ao consumo. Para o PIB de dezembro, a previsão dos analistas é de apenas 0,2% de crescimento.

Apesar de minguadas, as expectativas para a etapa final de 2012 estão de acordo com o esperado e com a previsão de uma expansão do PIB próxima de 1% em todo o ano. Nos cálculos do Itaú Unibanco, o crescimento de outubro foi um pouco melhor que o apontado pelo BC: 0,5%. “Em suma, a atividade econômica avançou em outubro, após contração em setembro”, resumiu Aurélio Bicalho, economista da instituição. “Para novembro, os sinais voltam a ser de fraqueza. Os dados disponíveis sugerem que a expansão de outubro não se sustentou. Nossa prévia do PIB mensal aponta para ligeira contração”, disse ele.

Fraqueza A retração já detectada no mês passado se explica pela persistente fraqueza da indústria e por um arrefecimento do consumo. Especialistas avaliam que as famílias anteciparam compras, em outubro, por receio de que os benefícios fiscais concedidos a bens duráveis fossem acabar naquele mês. Desse modo, não voltaram a gastar com os mesmos produtos no mês seguinte. Indicadores da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) confirmam esse movimento. Em novembro, o emplacamento de automóveis novos encolheu 9,05% em relação a outubro; na comparação com igual mês de 2011, o recuo foi de 10,56%. Diante desse desempenho, as projeções para o crescimento do ano podem até piorar. “As vendas no setor automobilístico, afetadas pela redução do IPI, têm elevado a volatilidade da atividade econômica. Essa oscilação deve permanecer alta nos próximos meses”, argumentou Bicalho.

Pelos dados do IBC-Br, o país cresceu 1,14% de janeiro a outubro. Em 12 meses, esse avanço foi de 1,21%. “O PIB não parece ter se recuperado ainda”, sentenciou Mariana Hauer, economista do banco ABC Brasil. “A retomada, agora, vai depender da confiança empresarial, e ela foi afetada pela percepção de que o governo se tornou intervencionista”, ponderou Carlos Kawall, economista-chefe do banco J. Safra. Para Kawall, o grande desafio é impulsionar investimentos e fazer o setor produtivo tirar projetos da gaveta. Sem isso, avalia, a taxa de crescimento do país perde força. “Para o ano que vem, pelo menos, entraremos com um carregamento estatístico maior, um pouco acima de 1%”, calculou.

Recuperação No mercado, o consenso é de que 2012 terminará com um crescimento do PIB próximo de 1%. No boletim Focus, pesquisa semanal na qual o BC reúne a expectativa de 100 analistas e consultores selecionados, a projeção está em 1,03%, após quatro rodadas consecutivas de queda. Essa taxa, porém, pode ser ainda menor. Grandes bancos e algumas corretoras importantes já apostam em uma alta de apenas 0,9%. “Mesmo com uma aceleração mais forte da atividade econômica em dezembro, a expansão do PIB no quarto trimestre deverá ser apenas um pouco superior à observada no terceiro”, projetou Bicalho.

Os dados, porém, revelam perspectivas mais favoráveis para o começo de 2013. Analistas ponderam que o processo de recuperação está em andamento, apesar de mais lento do que o ideal. Eles explicam que a expansão foi disseminada em outubro, com nove dos dez setores do IBC-Br mostrando crescimento.

A ligeira melhora, segundo especialistas, reflete os estímulos dados pelo governo, como o desconto de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis e outros produtos e a desoneração da folha de pagamento de vários segmentos da indústria, além da redução dos juros. As intervenções no câmbio, sustentando a cotação do dólar, evitaram que a indústria afundasse ainda mais na crise, mas não foram suficientes para aumentar a competitividade do setor.

» Faxina nas regras

Em discurso na Federação Brasileira de Bancos (Febraban), na quinta-feira, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, anunciou que vai diminuir o “custo de observância do Sistema Financeiro Nacional”. Na prática, quer desburocratizar o processo de geração, entrega e análise de informações. E abandonar exigências inúteis para a fiscalização dos bancos. “À medida que a regulação e supervisão financeira evoluem, temos que olhar para a eficiência dos processos. Por isso, lançaremos o projeto no início do próximo ano e esperamos resultados ainda em 2013”, disse.