Correio braziliense, n. 20793 , 27/04/2020. Política, p.4

 

Moro denuncia fake news

27/04/2020

 

 

GOVERNO » Ex-ministro diz que é alvo de uma campanha difamatória desde que deixou a pasta da Justiça e da Segurança Pública. Grupos bolsonaristas têm espalhado mensagens com pedido para deixar de seguir o ex-juiz nas redes sociais

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro utilizou o Twitter, ontem, para afirmar que tem sido vítima de fake news disseminadas após oficializar a saída do governo federal. Ao pedir demissão, Moro acusou o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir na atuação da Polícia Federal. “Tenho visto uma campanha de fake news nas redes sociais e em grupos de WhatsApp para me desqualificar. Não me preocupo; já passei por isso durante e depois da Lava-Jato. Verdade acima de tudo. Fazer a coisa certa acima de todos”, escreveu o ex-juiz.

Simpatizantes do governo têm utilizado uma foto do ano passado, que conta, além de Moro, com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e a ex-líder do governo federal no Parlamento Joice Hasselman (PSL-SP), para alimentar fake news. As mensagens insinuam que o ex-ministro se aproximou dos deputados recentemente para conspirar contra o chefe do Executivo. Grupos bolsonaristas também têm espalhado mensagens em que pedem para deixarem de seguir Moro nas redes sociais. “Serão um termômetro social de apoio ao presidente Bolsonaro e desaprovação das condutas imorais do STF, CN e do plano de traição”, afirma o texto.

Maia e Bolsonaro têm tido atritos recentes. No último deles, o presidente chegou a classificar como “péssima” a atuação do presidente da Câmara no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. Antiga aliada do presidente, Joice disse, na semana passada, que Bolsonaro não respeita a democracia, as instituições e as liberdades. O comentário foi feito após o presidente participar, em Brasília, de uma manifestação que defendia o AI-5, o mais duro decreto editado durante a ditadura militar.

Ontem, a deputada, também pelo Twitter, comentou o post de Moro. “Verdade acima de tudo!!! A máquina de destruir reputações — agora palaciana/miliciana — tem sempre o mesmo modus operandi. Tentam jogar biografias na lama e atingir a família de quem considera desafeto. São covardes. Não conseguirão desta vez”, afirmou.

Provocação

A foto do encontro entre Moro, Joice e Maia foi postada também por Carlos Bolsonaro (Republicanos), vereador do Rio de Janeiro e filho do chefe do Executivo. Publicada ao lado de outra imagem, onde o ex-ministro conversa com o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), o registro tem, ainda, as presenças do ex-presidente Michel Temer (MDB) e de Geraldo Alckmin (PSDB), ex-governador de São Paulo. “Já que dizem que uma foto diz muito, espero destes acusadores, que valha para todos”, postou Carlos.

O ex-juiz tem sido ativo nas redes sociais desde que deixou o governo. No sábado, Moro compartilhou uma campanha feita pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. “‘Faça a coisa certa, pelos motivos certos e do jeito certo’ foi o lema de campanha de integridade que fizemos logo no início no MJSP”, pontuou.

No mesmo dia, Bolsonaro rebateu, fazendo menção aos vazamentos de mensagens trocadas por integrantes da força-tarefa envolvida na Operação Lava-Jato: “A Vaza-Jato começou em junho de 2019. Foram vazamentos sistemáticos de conversas de Sergio Moro com integrantes do MPF. Buscavam anular processos e acabar com a reputação do ex-juiz. Em julho, PT e PDT pediram a prisão dele. Em setembro, cobravam o STF. Bolsonaro, no desfile, fez isso”, diz a mensagem, que legendava uma foto dele ao lado de Moro.