O Estado de São Paulo, n.46196, 10/04/2020. Metrópole, p.A13

 

Ilona Becskeházy assume cargo no Ministério da Educação

Renata Cafardo

10/04/2020

 

 

Ex-comentarista da CBN e consultora educacional, ela vai comandar a secretaria de ensino básico

Polêmicas. Weintraub completa um ano à frente da pasta

Ilona Becskeházy, ex-comentarista da rádio CBN e consultora de educação, assumirá a secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC). Quem estava no cargo era Janio Macedo, que pediu demissão ontem. Segundo o Estado apurou, ele estava descontente havia meses por discordar de posições adotadas pelo ministro Abraham Weintraub.

Ilona já vinha se posicionando fortemente a favor da atual gestão do MEC em redes sociais, onde defende políticas do governo Bolsonaro e de Weintraub – e faz críticas à imprensa. Ela é mestre e doutora em política educacional, com pesquisa sobre o modelo de ensino de Sobral, no Ceará.

Desde o início do governo Bolsonaro, Ilona se aproximou do MEC. Ela fez parte de uma comissão que ajudou a construir a política de alfabetização no ano passado. Há alguns anos, foi diretora da Fundação Lemann e acabou se firmando como especialista em educação.

Recentemente, no entanto, passou a ser vista com desconfiança no meio educacional por defender publicamente ações polêmicas da atual gestão do Ministério e atacar pelas redes quem discordava delas. Um exemplo foi o programa de escolas cívico-militares, criticado pela maioria dos educadores por atender grupo pequeno de estudantes e ter ensino baseado no rigor e disciplina. Nos bastidores, muitos têm dito que ela pretende chegar ao cargo de ministra, algo que Ilona nega.

A informação oficial do MEC é a de que Macedo deixou a pasta por questões pessoais. Mas o Estado apurou que ele não aguentava mais as demandas da pasta, inclusive com pedidos de mudanças no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Ele não tinha autonomia para fazer e falar nada sem passar pela filtragem ideológica e política do ministro Weintraub”, diz uma fonte ligada ao ministério.

O secretário de ensino básico é um dos cargos mais importantes no órgão porque cuida justamente da interlocução com Estados e municípios, responsáveis pelas escolas públicas do País. Apesar de não ser da área da educação – Macedo é concursado do Banco do Brasil – era um dos poucos considerado “bem intencionado” na equipe por secretários de educação e outros especialistas da área. A demissão causou preocupação. O Estado procurou Macedo, mas ele não retornou às ligações.

Em pouco mais de um ano de governo Bolsonaro, o MEC já passou por diversas mudanças em cargos importantes, o que atrapalha a continuidade de projetos. Recentemente Weintraub trocou também seu secretário de Educação Superior.

Nesta semana, o ministro completou um ano no cargo, sem ter apresentado nenhuma grande política educacional e com muitos desafetos. Sua principal características são os comentários polêmicos nas redes sociais, sobre assunto diversos e não necessariamente sobre educação.

No sábado, Weintraub usou uma imagem de Cebolinha, da Turma da Mônica, na Muralha da China. Substituindo o “r” pelo “l”, ele fez referência ao modo de falar do personagem, para insinuar que se tratava dos chineses. O ministro disse que o país asiático sairia fortalecido da crise atual causada pelo coronavírus. A Embaixada da China no Brasil se manifestou dizendo que as “declarações são completamente absurdas e desprezíveis, que têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil.”

Adeus

“Ilona deverá ser a nova Secretária de Educação Básica do MEC. Agradeço ao Janio que nos ajudou muito nos últimos 12 meses e que deixa o MEC por razões pessoais”

Abraham Weintraub

MINISTRO DA EDUCAÇÃO