Título: O horror se repete
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 15/12/2012, Mundo, p. 24

Com uniforme decombate, atirador invade escola primária em Connecticut dispara ao menos 100 vezes e mata 20 crianças e seis adultos, inclusive a mãe. Polícia apreende três armas

Aconteceu de novo. Um atirador invadiu uma escola nos Estados Unidos e matou 20 crianças entre 5 e 10 anos de um jardim de infância na cidade de Newtown, em Connecticut. No total, ele fez 26 vítimas, antes de cometer suicídio. O rapaz, identificado pela imprensa norte-americana como Adam Lanza, 20 anos, atirou contra a própria mãe, professora das crianças. O massacre da Escola Primária Sandy Hook foi o segundo pior da história dos EUA, ficando atrás apenas do tiroteio em Virgínia Tech, em 2007, no qual 32 pessoas morreram. Emocionado, o presidente norte-americano prometeu tomar medidas significativas após o que chamou de “crime abominável”. “Não há um pai na América que não sinta a dor imensa que eu estou sentindo”, declarou (leia na página 25). Ele foi informado imediatamente após o ataque e decretou luto nacional de quatro dias. O presidente também pediu que todas as bandeiras americanas fossem hasteadas a meio mastro.

Até o fechamento desta edição, a polícia não havia esclarecido a motivação de Lanza. Ao longo do dia, o que se viu foi um grande desencontro de informações. A imprensa norte-americana divulgou tratar-se de um drama familiar que terminou em tragédia. A polícia de Connecticut prendeu e mantinha em custódia um homem que seria irmão do atirador, identificado como Ryan Lanza, 24 anos. Fontes oficiais disseram que ele não participou do tiroteio e tinha sido detido para ajudar nas investigações. O atirador foi identificado inicialmente como Ryan, que mais tarde revelou-se ser o nome do irmão mais velho de Adam. Indagados por jornalistas nas redes sociais, homônimos de Ryan Lanza desmentiram ser o atirador e pediram para que as pessoas parassem de chamá-los de assassino.

Durante a investigação, a imprensa americana noticiou que a polícia havia encontrado o corpo de um homem, em Hoboken (New Jersey), que seria do irmão do atirador, o que elevaria a 28 o número de mortos no episódio. No entanto, os investigadores não confirmaram a afirmação. Fontes próximas à polícia de Connecticut disseram que as autoridades estavam sendo muito reservadas, e a prioridade era amparar as famílias afetadas pelo tiroteio.

Ao longo do dia, a polícia se recusou a responder perguntas da imprensa e apenas divulgou breves comunicados. Em um deles, o tenente local, Paul Vance, esclareceu que a emergência (911) foi acionada às 9h30 (12h30 em Brasília). As informações oficiais apontavam 18 crianças e seis adultos mortos na escola e duas crianças falecidas em um hospital de Danbury, ao lado de Newtown, ambas no mesmo condado de Fairfield. Fontes médicas se recusaram a informar o número de feridos, mas a imprensa norte-americana especulava que pelo menos três crianças estariam internadas em estado grave.

Diretora

Relatos divulgados por sites de notícias davam conta que Adam Lanza entrou no prédio usando um uniforme preto de combate e um colete militar à prova de balas. Ele teria disparado cerca de 100 vezes. Segundo testemunhas, Adam matou primeiro a diretora da escola, identificada como Dawn Hochsprung. Depois, ele teria seguido para a sala onde sua mãe, Nancy Lanza, dava aula. Atirado contra ela e as crianças. Um psicólogo da instituição também foi assassinado, mas até a noite de ontem não havia sido identificado, assim como as outras três vítimas adultas. De acordo com a rede CNN, a polícia apreendeu no local pelo menos três armas: duas pistolas semi-automáticas e um rifle calibre 223. Segundo a emissora NBC News, as armas foram compradas legalmente e estavam registradas no nome de Nancy.

Os relatos colhidos pelas tevês norte-americanas no local eram dramáticos. Em entrevista à WCBS-TV, um estudante da Sandy Hook disse ter ouvido os disparos e visto cartuchos caindo pelo corredor por onde passava quando foi puxado por uma professora para dentro de uma sala. “Parecia que alguém estava chutando a porta”, contou. Em entrevista à agência Reuters, Brenda Lebinski, mãe de uma aluna da 3ª série, disse que “todos estavam histéricos”. “Havia crianças saindo da escola ensanguentadas. Não sei se foram baleadas, mas estavam ensanguentadas.”

O carioca Luigi Mondelli, professor e dono de uma academia de jiu-jítsu em Danbury (Connecticut), contou ao Correio que o clima na cidade, vizinha a Newtown, era de total consternação. “Estão todos chocadíssimos por aqui”, contou. Alguns de seus alunos tinham filhos matriculados na Escola Primária Sandy Hook. “Felizmente, nenhum deles morreu. Estão todos bem”, contou. Mondelli relatou que, durante o dia, foi intenso o fluxo de ambulâncias próximo a sua academia. O governador de Connecticut, Dan Malloy, disse em Newtown, que ainda era cedo para falar em recuperação, mas que “todos estavam unidos”. “Hoje, o mal visitou essa comunidade.”

Havia crianças saindo da escola ensanguentadas. Não sei se foram baleadas, mas estavam ensanguentadas”

Brenda Lebinski, mãe de uma aluna da 3ª série

Hoje, o mal visitou essa comunidade. É muito cedo para falar de recuperação, mas vamos passar por tudo isso”

Dan Malloy, governador de Connecticut