O globo, n. 31658, 10/04/2020. Economia, p. 22

 

STJ encontra indícios de ligação de Siro Darlan com milícia

Chico Otavio

10/04/2020

 

 

Desembargador foi afastado de suas funções, e seu filho está em prisão domiciliar. Esquema investigado venderia sentenças

RAFAEL MORAES/11-6-2015Cerco fechado. O desembargador Siro Darlan é suspeito de ter mantido ligações com grupos de milicianos do Rio

 O ministro Luis Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), encontrou ligações entre milicianos e o esquema de venda de sentenças nos plantões judiciais do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Na decisão, que afastou ontem o desembargador Siro Darlan e determinou a prisão de outras quatro pessoas envolvidas no esquema, o ministro destacou que os investigadores encontraram indícios de que Darlan teria recebido vantagens para favorecer Marco Antônio Figueiredo Martins, conhecido com Marquinho Catiri, suspeito de chefiar uma milícia em Del Castilho, na Zona Norte do Rio. Catiri foi beneficiado por liminar concedida por Darlan no plantão do dia 7 de outubro de 2018.

Salomão destacou ainda, na decisão, a suspeita de que o esquema teria tentado favorecer um comparsa do miliciano Mayson César Fideles de Santana, conhecido como Santana, ou César, um dos líderes da milícia de Itaboraí, na Região Metropolitana. Em troca de um habeas corpus em favor do Leandro Bastos da Rocha, cabo da Polícia Militar do Rio, que acabou negado, a milícia de Itaboraí teria pagado R$ 280 mil, a ser dividida entre os envolvidos, incluindo Darlan.

Por determinação do ministro, relator do caso no STJ, a Polícia Federal deflagrou, na manhã de ontem, a Operação Plantão Fase 2, com o objetivo de cumprir 15 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão temporária (contra o filho de Darlan, advogado Renato Darlan, seu sócio, Pablo Filipe Morais Soares de Andrade, o ex-motorista do desembargador Luís Eduardo Soares e Mayson César Fideles de Santana). Renato irá cumprir prisão domiciliar.

Além dos mandados, o STJ expediu medidas como suspensão do exercício da função pública, proibição de contato e acesso a lugares e bloqueio de bens, carros e imóveis.

Segundo relatório de análise do celular apreendido com Renato em setembro passado, o habeas corpus de Marquinho Catiri foi alvo do interesse de Pablo. Em mensagem pelo WhatsApp, Pablo, ao perguntar se Renato tem bom relacionamento com o advogado de Catiri, diz que “ele teve aquele benefício com o coroa. Podemos cobrar esse favor”. Com base no diálogo, o Ministério Público Federal concluiu que houve autorização de Renato para que Pablo abordasse o advogado de Marquinho Catiri para negociar a decisão que tratou de sua soltura.

No caso miliciano Mayson, provas foram obtidas da extração de dados do seu celular. O conteúdo revela que ele se comunicou, por diversas vezes, com uma pessoa identificada na agenda como “Ciro Darlam”, cujo o número era usado por Luís Eduardo. Procurado, o advogado de Siro Darlan, Carlos Eduardo Machado, disse que não poderia falar por ora, mas que entraria em contato depois.