O globo, n. 31660, 12/04/2020. Especial Coronavírus, p. 10

 

Na visita, álcool em gel; nas redes, críticas ao isolamento

Amanda Almeida

Aguirre Talento

12/04/2020

 

 

Bolsonaro vai a obra e usa máscara. No Twitter, ataca comércio fechado

 O presidente Jair Bolsonaro visitou ontem as obras de instalação primeiro hospital de campanha do governo federal no combate ao novo coronavírus. A estrutura, montada no município de Águas Lindas de Goiás, custará R$ 10 milhões e terá 200 leitos para atendimento exclusivo a pacientes com a Covid-19. No local, Bolsonaro encontrou o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), rompido politicamente com ele desde o mês passado, depois de o presidente minimizar a pandemia. Durante o encontro, Caiado higienizou as suas mãos e também as do presidente com álcool em gel para os cumprimentos.

Apesar de ter usado máscara na visita, o presidente voltou a criticar, nas redes sociais, medidas de isolamento e fez contato físico com a população. No Twitter, a conta do presidente publicou um vídeo de entrevista de 25 de março na qual prega que os brasileiros precisam “acordar para a realidade” antes de um suposto caos se instalar em função da paralisia no cotidiano do país pelo coronavírus, criticando medidas “além da normalidade” como o fechamento do comércio.

As orientações de isolamento são recomendadas por autoridades de todo o mundo, além da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde brasileiro. O presidente deixou o Palácio da Alvorada por volta das 11h, acompanhado dos ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura). Os três foram acompanhados por assessores em dois helicópteros que partiram do gramado em frente ao Alvorada. A montagem do hospital de Águas Lindas começou na última terça-feira e a previsão de conclusão da obra é de 15 dias.

Após a visita, o presidente Bolsonaro deixou o local do hospital e saiu andando por seu entorno para conversar com apoiadores que se aglomeravam para vê-lo. Sem usar máscara, Bolsonaro foi até eles para cumprimentá los, novamente contrariando as recomendações da OMS e do Ministério da Saúde de evitar aglomerações e fazer o distanciamento social. Bolsonaro deixou o local sem falar com a imprensa. Questionado sobre a saída de Bolsonaro para cumprimentar as pessoas, Mandetta, que tem acumulado atritos

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, aplica em álcool gel na mão do presidente Bolsonaro, durante visita com o presidente, afirmou não julgar a atitude e criticou a imprensa que se aproximou dele para entrevistá-lo.

— Eu posso no máximo recomendar. Não posso fazer as coisas. Eu não julgo ninguém. Eu acredito no distanciamento. Estou extremamente desagradado por ter tanto microfone perto —afirmou. Questionado se a recomendação do distanciamento valeria para o presidente,

Mandetta respondeu:

—Vale para todos os brasileiros —disse o ministro.

HUMAN RIGHTS WATCH

os esforços dos governadores e do seu próprio Ministério da Saúde para conter a disseminação da Covid-19, colocando em risco a vida e a saúde dos brasileiros — disse José Miguel Vivanco, diretor da Divisão das Américas da Human Rights Watch