Título: Morsy sobre ato: É temporário
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Fonte: Correio Braziliense, 26/11/2012, Mundo, p. 13
Após protestos, presidente do Egito diz que ampliação de poderes tem duração limitada
Na tentativa de apaziguar os ânimos no país, a Presidência do Egito divulgou ontem um comunicado no qual afirma que o polêmico decreto que amplia os poderes do presidente Mohamed Morsy tem caráter temporário. O argumento, contudo, não diminuiu as tensões nas ruas. A nação africana continuou sendo palco de diversos confrontos entre opositores e simpatizantes do governo, e um atentado matou um integrante da Irmandade Muçulmana, grupo que criou o partido pelo qual Morsy foi eleito.
Na nota veiculada, a Presidência afirma que o decreto é necessário para "punir os responsáveis pela corrupção e por outros crimes cometidos durante o regime anterior (do ditador deposto Hosni Mubarak) e o período de transição (democrática)". O objetivo também seria "abortar qualquer tentativa" de dissolução de "conselhos democráticos e preservar a imparcialidade do Judiciário". Ainda segundo o documento, os esforços do presidente estariam voltados para que "todas as forças políticas do país estejam presentes no diálogo pela democracia e no firmamento de um consenso sobre a nova Constituição".
O Conselho Superior da Magistratura Judicial, maior autoridade de Justiça do país, mudou o tom crítico a Morsy depois da divulgação da nota. O Conselho, que anteriormente chegou a chamar o ato de um "ataque sem precedentes" ao Judiciário, afirmou que ele só deverá se aplicar a decisões ou leis de "assuntos soberanos". O órgão pediu ainda para que os juízes não entrem em greve, como convocou, no sábado, o Clube de Juízes. O Ministro da Justiça, Ahmed Mekky, iniciou esforços de mediação entre membros do Executivo e do Judiciário, que devem se encontrar hoje para discutir por que a proteção de revisões judiciais das próximas medidas de Morsy é necessária nesse momento.A oposição, porém, continuou cética e ativa. Os arredores da Praça Tahrir, na capital egípcia, Cairo, foram novamente palco de conflitos, segundo a agência estatal Mena. Próximo à rua Qasr al Aini, foi construído um novo muro de concreto para isolar o acesso às sedes do Parlamento e do Conselho de Ministros, enquanto na Praça Simón Bolívar, soldados reagiram ao arremesso de pedras com gás lacrimogêneo.
Morte
Um integrante da Irmandade Muçulmana foi morto e 60 pessoas ficaram feridas em um ataque ao principal escritório da Irmandade na cidade de Damanhour, no Delta do Nilo egípcio, afirmou o site do Partido da Justiça e Liberdade. "O membro da Irmandade, Islam Fathy Masoud, de 15 anos, foi morto e 60 ficaram feridos depois que marginais atacaram o quartel-general da Irmandade Muçulmana, na ausência total das forças policiais", afirmava a página. A aliança governista pediu que apoiadores do governo iniciem marchas por todo o país e marcou para terça-feira um ato na Praça Abdeen, no Cairo.
Hamas e Fatah se aproximam O Hamas, que governa a Faixa de Gaza, anunciou ontem que libertará 22 membros do grupo rival Fatah detidos em seu território, em um gesto para promover a reconciliação entre os palestinos. "O governo do Hamas decidiu conceder uma anistia a todos os membros do Fatah detidos desde 2006", revelou o porta-voz Taher al Nunu, em entrevista coletiva. A iniciativa foi anunciada três dias após o inesperado gesto do presidente palestino, Mahmud Abbas, que telefonou ao primeiro-ministro de Gaza, Ismail Haniyeh (membro de Hamas), para felicitá-lo pela "vitória" com a conclusão do cessar-fogo com Israel. Em um comunicado oficial, o Centro Palestino para os Direitos Humanos saudou a decisão do Hamas e manifestou sua esperança de que a iniciativa "fortalecerá o processo de reconciliação e marcará o fim das divisões que persistem há seis anos". Hamas e Fatah, que governam respectivamente a Faixa de Gaza e as zonas autônomas da Cisjordânia, firmaram no ano passado, no Egito, um acordo de "reconciliação nacional", mas a maioria de suas cláusulas não foram aplicadas.