Correio braziliense, n. 20797 , 01/04/2020. Economia, p.8

 

Desemprego em marcha de subida

Marina Barbosa

Fernanda Strickland

01/05/2020

 

 

IBGE detecta que a taxa de desocupação passou para 12,2% no trimestre encerrado em março, e já estava em alta antes do coronavírus. Representa que aproximadamente 1,2 milhão estão sem trabalho. Estimativa é de que esse número cresça a partir de abril

O desemprego já estava alto no Brasil no primeiro trimestre deste ano, quando a pandemia do novo coronavírus ainda só começava a afetar a economia nacional. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação passou de 11% no fim de 2019 para 12,2% no trimestre encerrado em março de 2020. Isso significa que por volta de 1,2 milhão de pessoas entraram na fila do desemprego só nos últimos três meses, mas os analistas afirmam que esse número ainda tende a crescer por conta da crise da Covid-19.

Com esse aumento, o número de desempregados chegou a 12,9 milhões de pessoas no Brasil no primeiro trimestre deste ano. A analista da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, Adriana Beringuy, afirma, porém, que o crescimento do desemprego já era esperado, visto que no início do ano as empresas fecham muitas das vagas temporárias abertas nas festas de fim de ano. Ela admitiu, por sua vez, que a alta foi mais forte do que o esperado em alguns setores econômicos.

De acordo com o IBGE, houve retração no nível de emprego em quase todas as áreas pesquisadas: indústria (2,6%), construção (6,5%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (3,5%), alojamento e alimentação (5,4%), outros serviços (4,1%) e serviços domésticos (5,9%). Até o número de trabalhadores informais caiu, pois o nível de emprego sem carteira assinada do setor privado registrou um baque recorde de 7%.

“O movimento foi mais acentuado entre os informais: dos 2,3 milhões de pessoas que deixaram o contingente de ocupados, 1,9 milhão é de autônomos”, disse a analista da pesquisa, lembrando, porém, que ainda há 36,8 milhões de trabalhadores abaixo da linha do radar das estatísticas.

Adriana Beringuy diz, porém, que ainda não é possível creditar esse resultado à crise do novo coronavírus. Afinal, o trimestre encerrado em março considerou apenas o início das medidas de isolamento social que reduziram a atividade de milhares de negócios do país.

“Grande parte do trimestre ainda está fora desse cenário”, comentou a analista do IBGE. “A alta registrada em março reflete a fraca evolução da atividade econômica, antes mesmo do coronavírus. Até porque as medidas de isolamento social só começaram no fim de março, e muita gente não foi demitida logo nos primeiros dias de isolamento”, reforçou o coordenador do curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário IESB, Riezo Almeida.

Impacto

É possível, então, que o maior impacto da Covid-19 venha só nos próximos meses, e os analistas alertam que o choque não deve ser pequeno. Isso porque a crise do coronavírus deixou muitas empresas sem funcionar e, portanto, muitos perderam o emprego, mesmo depois da adoção das medidas de proteção ao trabalho anunciadas pelo governo.

Por causa disso, a Reag Investimentos acredita que a taxa de desemprego, de 12,2%, vai subir para 13,1% em abril, 14,5% em maio e para o auge de 15,4%, em junho.

“Algumas demissões já estão sendo feitas, mas o pico só virá em junho porque, mesmo depois da reabertura do comércio, muitas pessoas ainda vão ficar com medo de frequentar certos locais. A retomada não deve vir logo e aí provavelmente os empresários vão dispensar funcionários”, explicou a economista-chefe da Reag, Simone Pasianotto.