Correio braziliense, n. 20797 , 01/05/2020. Cidades, p.15

 

Lojas de shopping só abrirão após testes

Jéssica Eufrásio

Ana Maria da Silva*

01/05/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Exame para detecção da Covid-19 em todos os funcionários é uma das exigências para que centros comerciais voltem a funcionar. Requisito consta em versão preliminar de decreto que prevê flexibilização do isolamento social no DF. Medida, no entanto, depende de decisão judicial

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), anunciou o adiamento da data de reabertura de mais uma parte do comércio pouco antes do Dia das Mães. Além de problemas em garantir máscaras para distribuir à população e de questionamentos da Justiça, uma das preocupações que teriam motivado a mudança foi a possibilidade de haver aglomeração na busca pelos presentes. Ontem, em nova reunião, representantes do Executivo local e de associações do setor de serviços discutiram as condições para funcionamento de shoppings e centros comerciais a partir de 11 de maio, se houver autorização judicial.

O Correio teve acesso à versão preliminar do decreto que detalha mais uma etapa da flexibilização do isolamento social no DF. Como antecipado, academias de esporte de todas as modalidades, clubes esportivos e de lazer, bares, restaurantes, salões de beleza e centros estéticos continuam de fora, com previsão de permanecerem fechados. No caso de shoppings, o acesso de clientes só poderá ocorrer mediante verificação da temperatura. Além disso, todos os cerca de 160 mil funcionários devem passar por teste para detecção da Covid-19 e usar equipamentos de proteção individual.

A minuta agradou representantes de entidades do setor, que ainda podem propor sugestões. O Plano de Reabertura entregue por elas ao governador Ibaneis Rocha (MDB), na semana passada, serviu de base para o documento preliminar. O guia incluiu série de orientações para funcionamento de estabelecimentos como shoppings, salões de beleza e estúdios de treinamento físico.

Até que a decisão judicial saia, os empresários encaminharão novas sugestões ao Governo do Distrito Federal (GDF), especialmente em relação ao horário de funcionamento dos shoppings. A ideia é que as entidades proponham expedientes alternativos, para não gerar aglomerações nem lotação no sistema de transporte público. Além disso, a testagem de todos os funcionários foi uma das condições impostas. Caso haja aumento na curva de contaminação, o governador Ibaneis Rocha (MDB) pode recuar da decisão.

Duas fases

As penalidades para descumprimento das normas também estão sob avaliação. No entanto, pessoas com temperatura acima do estabelecido ou sem máscara deverão ser barradas na entrada. Ontem, a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) divulgou o Protocolo de Operação após Reabertura dos Shoppings. O documento apresenta 23 recomendações baseadas em referências internacionais, que incluem desde verificação da temperatura até ampliação do espaço entre vagas de garagem e mesas de restaurantes e praças de alimentação.

O protocolo tem duas fases: a primeira é a abertura parcial, com horário reduzido de funcionamento, cancelamento de eventos, manutenção de cinemas e áreas de lazer fechadas. Para depois, o plano prevê a liberação total, com shoppings abertos normalmente. Em Brasília, alguns deles se organizam para a etapa inicial. “Fizemos teste da Covid-19 em todos os colaboradores que retornarão à atividade profissional. Também adquirimos máscara para todos eles, bem como termômetros para medir a temperatura dos clientes”, informou as Organizações PaulOOctávio, administradora de três shoppings do DF.

O ParkShopping comunicou que, além de cumprir as determinações do poder público, elabora um protocolo de cuidados específicos. “Contamos com uma consultoria de infectologistas, buscando promover o máximo de segurança aos clientes e trabalhadores.” O Conjunto Nacional também organiza série de procedimentos no caso de reabertura: “Entre elas desinfecção diária do shopping e higienização a cada três horas de superfícies muito tocadas, além do controle de acesso nas entradas e da suspensão de eventos”.

Infectologista do Hospital Brasília, Ana Helena Germoglio avalia que a abertura do comércio deveria depender da redução do número de casos na região e lembrou que a máscara, por si só, não é capaz de conter a disseminação do novo coronavírus. “Ela só vai funcionar se todos usarem. O mesmo vale para outras medidas, que chamamos de não farmacológicas. Elas só funcionarão se forem implementadas em conjunto: higienizar as mãos, manter o isolamento social e evitar aglomerações”, destacou.

Em relação à verificação da temperatura dos clientes, Ana alertou que a medida tem pouca eficácia, pois nem todas as pessoas contaminadas pelo vírus têm sintomas. “Quem está com febre não costuma frequentar shopping, prefere ficar na cama. E também há a transmissão por pacientes assintomáticos, que, apesar de pouca, existe”, completou a médica.

Condições

Confira algumas exigências previstas para a reabertura dos shoppings:

» Verificação da temperatura de todos os clientes antes da entrada no local

» Garantia de fornecimento de equipamentos de proteção individual e álcool em gel 70% para funcionários, colaboradores, terceirizados e prestadores de serviço

» Fechamento de pontos de recreação, como brinquedotecas, áreas de jogos eletrônicos, cinemas, teatros e afins

» Fechamento das praças de alimentação, com autorização apenas para serviço de entrega a domicílio e retirada de produtos, com proibição do consumo no local

» Funcionamento de lojas apenas mediante realização de teste para detecção da Covid-19 em todos os funcionários

» Disponibilização dos resultados nas lojas, para conhecimento das autoridades de fiscalização

* Estagiária sob supervisão de Guilherme Goulart