Correio braziliense, n. 20798 , 02/05/2020. Economia, p.11

 

Rombo de 622 bilhões em 2020

Simone Kafruni

02/05/2020

 

 

O impacto do coronavírus nas contas públicas será de um deficit primário de R$ 622 bilhões no fim do ano, no pior cenário para a economia brasileira, de queda de 5,34% do Produto Interno Bruto (PIB). É o que afirma o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues. Se a previsão se concretizar, série o maior da séria histórica, iniciada em 2000, de um rombo de 8,7% do PIB. Ao considerar o cenário moderado, de redução de 3,34% do PIB, o deficit projetado é de R$ 601 bilhões.

De acordo com a equipe econômica, a dívida bruta do governo poderá atingir 93,1% do PIB, considerando a queda de 5,34% do PIB. Porém, o secretário Waldery Rodrigues afirmou que o fenômeno não é apenas brasileiro e que o mundo todo está aumentando seu endividamento. "Quando passar esse momento transitório, teremos condições de voltar a ter crescimento robusto e de buscar equilíbrio fiscal, como obtivemos em 2019", prometeu.

O governo estuda conceder auxílio emergencial a novos segmentos, mas não deve estender o período do benefício, mantido em três parcelas. O secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia também divulgou, ontem, que as ações de combate à crise somam R$ 349,8 bilhões em gastos ou renúncia de receitas. O último cálculo do governo era de R$ 285 bilhões. O novo cálculo inclui despesas de R$ 15,9 bilhões do programa de apoio a micro e pequenas empresas aprovado e um aumento de R$ 28 bilhões no pagamento do auxílio emergencial pago à população vulnerável, entre outros gastos.

Rodrigues disse que novos segmentos da sociedade poderão ser contemplados pelo auxílio emergencial. "É possível, sim, que haja novos beneficiários, segmentos elegíveis, porque estamos tratando de milhões de brasileiros que não têm nem a questão cadastral definida. Existe uma camada da população que é invisível", afirmou. "Estamos analisando tudo com cautela", completou.

Segundo o secretário, a concessão de crédito aumentou 30% em relação ao ano passado após o anúncio das medidas adotadas pelo governo. "Na semana entre 12 e 19 de abril, foram R$ 16 bilhões para pessoa física e R$ 31 bilhões para pessoa jurídica", detalhou. 

 R$ 350 bilhões
Valor prometido pelo governo federal para o combate à Covid-19

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Agências da caixa abrem hoje

Simone Kafruni

02/05/2020

 

 

CORONA VíRUS » Para minimizar filas, 900 unidades no país funcionarão, das 8h às 14h, para antecipar benefício de quem nasceu em setembro e outubro

Depois de uma semana conturbada, com aglomerações em várias agências, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse, ontem, que é impossível evitar as filas, mas anunciou medidas para mitigar o problema durante o pagamento da segunda e terceiras parcelas. "Sabemos da aglomeração e estamos agindo para minimizá-la, mas não vou prometer o impossível. Não há como pagar 50 milhões de pessoas em três semanas, como fizemos, sem fila", afirmou. Apesar de já ter uma proposta de cronograma para o pagamento da segunda parcela, Guimarães disse que vai apresentá-la primeiro ao ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, e depois ao presidente Jair Bolsonaro, antes de divulgar as datas.

Segundo Guimarães, muitas pessoas que se dirigiram às agências nesta semana foram pedir informações ou não tinham direito a receber porque, pelo cronograma, os nascidos em setembro e outubro receberão neste sábado e na segunda-feira, e quem faz aniversário em novembro e dezembro será pago na próxima terça-feira. "A maioria que está na agência não vai para retirar dinheiro, vai para ter informações ou teve o auxílio negado e não viu isso no aplicativo", destacou.

Para evitar aglomerações, Guimarães ressaltou que a Caixa não vai mais misturar o pagamento do Bolsa Família com o das contas digitais. "São os grupos mais carentes e também os que têm maior demanda por informações", explicou. "Estamos realizando o maior pagamento do Brasil e, potencialmente, do mundo. Foi difícil concatenar, porque, até 20 dias atrás, não tínhamos nem a base de dados dos informais e da conta digital. Para a segunda e terceira parcelas, poderemos nos organizar minimizar as filas", prometeu.

Segundo o presidente do banco, 50 milhões de brasileiros receberam R$ 35,5 bilhões, sendo 19,2 milhões do Bolsa Família (R$ 15,2 bilhões), e 10,5 milhões do Cadastro Único (CadÚnico), que receberam R$ 7 bilhões. "O restante é aquela parcela que não tinha cadastro e fez pelo aplicativo ou pelo site", disse. Cerca de 20,3 milhões de brasileiros receberam R$ 13,3 bilhões. Há um número maior de pessoas que estão se recadastrando, porque tiveram a avaliação do CPF inconclusiva, e também de pessoas que estão se registrando pela primeira vez. "Poderemos receber cadastramentos até 3 de julho. Quem tiver direito é só se cadastrar lá, em julho, que vai receber as três parcelas de uma vez. Por isso só teremos o número final de beneficiários em 3 de julho", explicou.

Hoje, 900 agências da Caixa estarão abertas das 8h às 14h para atendimento exclusivo do auxílio emergencial. Podem sacar todos os nascidos entre setembro e outubro. Na terça-feira, a última leva será dos aniversariantes em novembro e dezembro. Conforme Guimarães, apenas nessa sexta-feira, 1,5 milhão se recadastraram. "Em relação ao aplicativo, a Caixa já pagou dezenas de milhões de pessoas, mas se houver qualquer problema, pagaremos nos guichês ou nos caixas automáticos", ressaltou.

 Reforço

Além de melhorias no aplicativo e no site para atender à demanda, que já passou de 577 milhões de acessos, a Caixa está em contato com as prefeituras para auxiliar no controle das filas e da aglomeração, uma vez que o lado de fora das agências é espaço público. Cerca de 1,6 mil agências no país estão abrindo 2 horas antes todos os dias. "Também reforçamos o efetivo. Estamos contratando mais 3 mil vigilantes, além dos 2 mil que já contratados, para organizar as filas. Teremos mais recepcionistas dentro das agências e cinco caminhões, que atuavam para as loterias, e que agora vão atender a municípios, principalmente, do Norte e do Nordeste", enumerou.

Para ampliar as informações, haverá distribuição de panfletos, carros de som em 500 cidades e entrevistas diárias. "A gente entende o desespero das pessoas, mas é preciso informar melhor para que possam entender passo a passo. Há serviços que não são realizados nas agências, como ver se o cadastro foi aprovado ou inválido. A partir de agora, teremos a distribuição de senhas e teremos, sim, limite para o recebimento", explicou.

Frase
"Poderemos receber cadastramentos até 3 de julho. Quem tiver direito e só se cadastrar lá, em julho, que vai receber as três parcelas de uma vez"
Pedro Guimarães, presidente da Caixa