O globo, n. 31657, 09/04/2020. Especial Coronavírus, p. 5

 

Mutirão da industria local

Mariana Barbosa

09/04/2020

 

 

A indústria brasileira começou efetivamente a produzir ventiladores pulmonares de UTI em larga escala. Para fazer frente à demanda de internações pelo novo coronavírus, o Ministério da Saúde fechou um contrato para a compra de 6.500 ventiladores com a Magnamed, maior fabricante nacional, segundo informações obtidas pelo GLOBO. O governo também negocia com a Vyaire, multinacional que no Brasil é dona da Intermed e tem uma fábrica em Cotia, interior de São Paulo.

O contrato prevê entregas ao longo de 180 dias, começando no fim do mês, mas a intenção é entregar em 90 dias. A negociação é superior a R$ 350 milhões e envolve mais de um modelo de respirador, a um custo inicial de R$ 50 mil.

A produção é resultado de uma ação coordenada de algumas indústrias, que se uniram para importar peças e componentes e fabricar localmente — ea toque de caixa — peças de precisão que antes eram compradas no exterior.

FORÇA-TAREFA

O governo federal centralizou as compras de respiradores e tem incentivado a produção para reduzira dependência do produto chinês. A assinatura do contrato comum fabricante nacional dá mais previsibilidadeao planejamento de combate ao coronavírus.

Os aparelhos da Magnamed e da Vyaire/Intramed serão produzidos em parceria coma fabricante de eletrônicos Flex, que cedeu sua linha de produção. A Magnamed conta ainda como suporte de K la bine Suzano, que disponibilizaram suas cadeias de suprimento para importar peças.

AEmbrae remais sete fornecedores

de componentes aeronáuticos também fazem parte do pool: estão produzindo duas peças de precisão em alumínio eque vão permitir substituir importações. As peças foram projetadas em uma semana e as primeiras 450 unidades já estão a caminho da Flex. A expectativa da Embraer é entregar 5 mil unidades de cada peça até o fim de abril.

Ao todo, o governo federal planeja adquirir de 20 mi la 35 mil respiradores até agosto, a depender da capacidade de produção nacional e da velocidade do contágio do novo coronavírus. Estima-se que 6% dos pacientes hospitalizados necessitem de respiradores ou ventiladores mecânicos. Em média, os doentes graves utilizam esses aparelhos por duas a três semanas.

Outra iniciativa que também está saindo dopa pelé a força-tarefa para consertar 3,6 mil respiradores do SUS. A ação envolve o Sesi/Senai,o Instituto de Pesquisas Tecnológicas

e a Poli/USP, além de uma rede de dez indústrias, que coleta respiradores nos hospitais e, depois de consertá-los, devolve os aparelhos higienizados e prontos para uso.

Até a noite de terça-feira, 599 respiradores haviam sido enviados a 35 pontos de reparos em 19 estados, em plantas

de Fiat, Ford, GM, Honda, Jaguar, Renault, Scania, Toyota, Vale e ArcelorMittal. Destes, 37 já estão começando a retornar aos hospitais e 63 estão em fase final de calibragem.

Um levantamento do governo de São Paulo contabilizou 30 iniciativas voluntárias para ampliar a capacidade de produção ou desenvolver projetos de novos respiradores de baixo custo. Um deles é um ventilador que cabe na palma da mão e custa R$ 1.500. Segundo Diógenes Silva, anestesista e um dos idealizadores do projeto, o produto não substitui os aparelhos sofisticados, mas pode desafogar o sistema.