O globo, n. 31666, 18/04/2020. Especial Coronavírus, p. 7

 

Ataques a Maia são vistos como afronta ao Legislativo

Amanda Almeida

Bruno Góes

Carolina Brígido

Isabella Macedo

18/04/2020

 

 

O ataque de Jair Bolsonaro ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), provocou uma reação suprapartidária em defesa do Congresso Nacional. Na quinta-feira, o presidente acusou Maia de conduzir "o Brasil para o caos" e de "conspirar" contra o governo. Recebida como uma agressão ao Legislativo, a fala aprofundou o desgaste entre o Planalto e parlamentares. Além disso, contribuiu para uma resposta imediata: o Senado desistiu de votar ontem uma minirreforma trabalhista proposta pela equipe econômica. Trata-se da Medida Provisória do Contrato Verde e Amarelo, que perde validade na segunda-feira caso não haja deliberação. As declarações de Bolsonaro foram interpretadas como uma afronta ao Congresso. No Senado, parlamentares expuseram publicamente o desconforto com a postura do presidente da República.

— Não vamos tapar o sol com a peneira: a fala, infeliz, do presidente da República expôs todos nós, expôs de forma indevida. (...) Nunca vi, nesses seis anos de mandato e acompanhando os dois mandatos do meu pai, que foi senador da República, tanta união entre oposição e situação no Congresso a favor do povo brasileiro. Então, neste momento em que estamos fazendo um esforço para aprovar medidas relevantes para o país, a fala do presidente foi indevida. O Congresso como um todo espera um pedido de desculpas neste momento — disse a presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Simone Tebet (MDB-MS). senadora

 presidente do STF

Ao responder à acusação no mesmo dia, Maia afirmou que Bolsonaro "taca pedras", mas o Parlamento "responde com flores" em momento de crise. Para o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), a reação de Maia deve guiar a manifestação de deputados. Ele argumenta que é preciso ter cautela, pois o Brasil passa por duas crises: econômica e sanitária. Caso seja estimulada a crise política, haveria a "tempestade perfeita" e o "caos institucional". — Ele (Bolsonaro) conseguiu unir o Congresso, desde a oposição ao centro e todos os partidos condenaram sua fala —afirmou. Na quinta-feira, a reação de deputados ao ataque foi imediata no plenário da Câmara. Logo após a fala do presidente, Maia deixou o comando da sessão, onde era votada a ampliação da renda emergencial aos mais vulneráveis.

Enquanto Maia se ausentava, deputados começaram a pedir a palavra para defendê-lo. Em sessão remota, a maioria acompanhava de casa o conflito. A partir do ataque de Bolsonaro, 40 deputados de 22 partidos pediram a palavra para prestar solidariedade a Maia. O momento de desagravo começou quando Hildo Rocha (MDB-MA) assumiu a presidência da sessão e se estendeu até o retorno de Maia à cadeira. Parlamentares de Novo e PSL, do centrão, como DEM, PP, PL e Republicanos, e da esquerda, caso de PT, PCdoB, PDT, PSB e PSOL, se uniram para fazer uma defesa do Legislativo. Enquanto davam apoio a Maia, sobraram adjetivos contra Bolsonaro: "covarde", "destemperado", "desleal", "desequilibrado", "errático", "invejoso" e "lunático". Quando os trabalhos chegavam perto do fim, o deputado Elias Vaz (PSB-GO) fez um resumo da sessão: — Acho que está ficando muito claro, até pela postura do conjunto dos deputados, que ninguém, ninguém aqui está fazendo a defesa da postura do presidente (Jair Bolsonaro). Acho que ele está constrangendo inclusive os que o apoiam nesta Casa.

 REAÇÃO NO SUPREMO

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, elogiou ontem o desempenho de Maia na condução da crise provocada pela pandemia: — Rodrigo Maia, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, têm tido uma atuação muito responsável. Nós não estamos perdendo as premissas da responsabilidade fiscal, isso é importante. O país não está autorizando estados a se endividarem do ponto de vista de lançar endividamento público através de títulos de crédito, como acontecia no passado e gerava descontrole fiscal. Então, o endividamento vai acontecer, mas está sendo feito de maneira coordenada.

_ Simone Tebet (MDB),

_ Dias Toffoli, "Não vamos tapar o sol com a peneira: a fala, infeliz, do presidente da República expôs todos nós, expôs de forma indevida. tanta união entre oposição e situação no Congresso a favor do povo brasileiro" "Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre têm tido uma atuação muito responsável. Nós não estamos perdendo as premissas da responsabilidade fiscal"