O globo, n. 31665, 17/04/2020. Especial Coronavírus, p. 4

 

Ministro do chefe

17/04/2020

 

 

Teich assume saúde com ‘alinhamento completo’, mas sem mudança ‘brusca’

Com a decisão de demitir o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta tomada desde a semana passada, o presidente Jair Bolsonaro consumou ontem a troca no Ministério da Saúde em meio ao agravamento da crise sanitária no país e anunciou o oncologista Nelson Teich no cargo.

Além da mudança no comando do combate ao coronavírus, o dia foi marcado por um novo acirramento do discurso de Bolsonaro, que voltou a pregar abertamente contra o isolamento social, e abriu nova frente de batalha política ao fazer ataques ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

No pronunciamento em que foi apresentado pelo presidente, Teich afirmou que não fará mudanças “bruscas” na política de isolamento,e citou a falta de informações sobre o avanço do coronavírus como o principal desafio técnico que terá no cargo. Ele é um defensor da testagem em massa, um dos maiores gargalos do Brasil junto da saturação dos hospitais. O primeiro discurso de Teich ficou marcado pela afirmação de que terá um “alinhamento completo” ao presidente. Foi esse o principal motivo para a queda de Mandetta. O ex-ministro não abriu mão de defender o isolamento de quem não trabalha em áreas essenciais.

Alvo de panelaços durante o pronunciamento, à tarde, e na hora dos telejornais, à noite, Bolsonaro declarou que não “condena nem critica” Mandetta. A entrada de um ministro dizendo que não irá confrontá-lo veio no mesmo dia em que o presidente voltou a usar tons mais acirrados.

Logo depois de anunciar Teich, Bolsonaro deu a primeira mostra de que o novo subordinado terá de conviver com um presidente que se opõe às orientações  médicas globais. O presidente defendeu que as pessoas não fiquem em casa e que as crianças têm de “voltar a escola’: alegando que não há mortes de menores de dez anos no pais . Segundo especialistas, as crianças devem participar do esforço de distanciamento social por representarem um fator de contagio aos mais velhos, uma vez que desenvolvem a doença de maneira assintomática em glande parte dos casos.
Com Mandetta fora, Bolsonaro terminou o dia elegendo um novo antagonista político.
Atacou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pela articulação de medidas econômicas das quais discorda. Ele disse que Maia parece conspirar e querer “me tirar do governo”. Maia afirmou que não responderia aos ataques.