O globo, n. 31665, 17/04/2020. Especial Coronavírus, p. 5

 

Reação política e nas janelas

Alice Cravo

João Paulo Saconi

Isabella Macedo

Flávio Freire

17/04/2020

 

 

ANA BRANCOProtesto. Casal bate em panelas na janela: manifestações no Rio contra Bolsonaro aconteceram em dois momentos

 Os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), divulgaram ontem uma nota conjunta afirmando que a demissão do ministro Luiz Henrique Mandetta da Saúde “não é positiva” para o país. Além de apontar Mandetta como “verdadeiro guerreiro”, os presidentes das duas Casas destacaram que eles e o país esperam que o presidente Jair Bolsonaro não tenha demitido o ministro para “insistir numa postura” prejudicial à nação comum“falso conflito” entre saúde e economia.

“A maioria das brasileiras e dos brasileiros espera que o presidente Jair Bolsonaro não tenha demitido Mandetta com o intuito de insistir numa postura que prejudica a necessidade do distanciamento social e estimula um falso conflito entre saúde e economia”, diz a nota.

À noite, Bolsonaro fez duras críticas a Maia. À CNN Brasil, o presidente afirmou, numa referência à aprovação pela Câmara do projeto de socorro a estados e municípios, que Maia tem uma atuação “péssima”, está aprofundando a crise e “assumiu o papel do Executivo”.Afirmou ainda que o deputado tem de “respeitá-lo”. Bolsonaro disse também “que parece que a intenção é lhe tirar da Presidência da República”.

Em resposta a Bolsonaro, Maia disse que o presidente joga pedras, enquanto o Congresso manda flores:

— É disso que devemos falar. Sobre como nós unidos podemos reduzir os danos às vidas dos brasileiros. O presidente ataca, com o velho truque da política quando tem noticia ruim, ele quer trocar o tema da pauta. Não vou entrar, não vou responder e vou continuar trabalhando.

Governadores se solidarizaram a Mandetta, entre eles Wilson Witzel, do Rio, e João Doria, de São Paulo. “Entre a saúde dos brasileiros e a política, o presidente Jair Bolsonaro preferiu a política”, postou Witzel nas redes sociais. “A saída do Mandetta é uma perda para o Brasil,” disse Doria na rede. Os governadores de Pará, Rio Grande do Sul, Goiás e Ceará também divulgaram mensagens de apoio.

DOIS PANELAÇOS

O anúncio da demissão de Mandetta da Saúde provocou panelaços em diversas capitais e cidades do país. As manifestações aconteceram em dois momentos: logo após Mandetta postar numa rede social que havia sido comunicado por Bolsonaro de sua demissão e durante pronunciamento do presidente sobre as mudanças no comando da Saúde.

Depois de uma primeira onda de protesto iniciada às 16h20m, quando Mandetta anunciou no Twitter que havia sido demitido, as manifestações recomeçaram por volta de 17h05m, assim que Bolsonaro fez um pronunciamento confirmando a troca na pasta e anunciar a chegada de Nelson Teich para a vaga. Houve registros de panelaços no Rio de Janeiro,em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Vitória, Salvador, Belém e Porto Alegre.

Entre os cariocas, os panelaços e gritos de “Fora, Bolsonaro!” ocorreram em bairros da Zona Sul, como Botafogo, Humaitá, Copacabana e Leblon; da Zona Norte, como Andaraí e Tijuca; da Zona Oeste, como Barra da Tijuca e Jacarepaguá; e da região central, como São Cristóvão e Lapa —nesse último, fogos de artifício e barulhos de apitos reforçaram a indignação dos moradores. Também houve manifestações em Niterói, no bairro de Icaraí, onde foi possível ouvir gritos chamando o presidente de “genocida”.

Em São Paulo, houve registros no Centro, Pinheiros, Higienópolis, Bela Vista, Perdizes, Santa Cecília e Vila Madalena. Em Brasília, Asa Sul e Asa Norte.